sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Delícia de Memórias

João de Araújo Correia


"Meu pai sempre nos segurava o tempo que podia em redor da mesa, no fim do almoço e do jantar. Devo às suas curtas e despretensiosas  prelecções, de forte cunho familiar, o conhecimento de muitas coisas interessantes que jamais encontraria em qualquer livro ou roda de cavaqueira.
Às migalhas da refeição juntava na toalha as migalhas mais apetecíveis da sua vivência. Eram particularmente interessantes os episódios das suas relações, ao longo da sua vida de rapazinho, de estudante, de médico e de escritor.
Relembrava com inesquecível  sabor  grandes competições de eixo, barra e pião com o rapazio nos terreiros de Canelas do Douro; escapadas à ditadura dos livros; episódios pitorescos da relação médico-doente; tortura de escritor, sempre ávido de um tempo que não tinha.
Muito me envaideciam as suas relações pessoais e epistolares com grandes vultos da ciência, da arte, da literatura e da política. Catequizado por meu avô paterno, sou republicano desde as minhas primeiras calças compridas. Por isso, nada agradava mais ao meu fervor republicano que ouvir meu pai descrever a audiência que o Dr. António José de Almeida lhe concedera.
Há muito que não relia de meu pai as Cartas da Montanha. Foi a recente leitura deste livro que me levou a escrever estas linhas."

Camilo de Araújo Correia

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