Se vives sem ser pai,
morrerás sem ter sido homem.
Provérbio russo
Um jovem pai passeia às cavalitas a sua
filhotinha, jóia sem preço, talvez o primeiro fruto de noites de amor.
Quando bebé, sentiu-lhe o calor tenro no
seu colo, acudindo a seus choros de berço, embalando-a em movimentos lentos e ritmados,
amparando-lhe a moleirinha com jeito intuitivo e sem tremura de mão.Esperou que a menina andasse para a levar a
passear em espaços de ares benfazejos.
Num impulso bem intencionado, pô-la sobre
as costas. Nunca sentira essa simples aventura infantil enquanto filho, essa
comunhão corporal de debilidade e rijeza. Chegou a hora da desforra.
Braços-amarras, mãos-tenazes, segurança.
A criança
parece assustada em tais alturas. Agarra-se ao pai com toda a força das mãozinhas.
E o seu rosto desfeia-se de aflição. Tão pequenina, tão menina, ainda se não
iniciou em escaladas. Ainda não experimentou o prazer de subir aos galhos
robustos das árvores, pousos de passarinhos. Em ovo ou em descanso de voo.
Regressados a casa, o pai desencavalitou a
filha perante o remoque da mulher ao ver o lindo vestido de sair todo
amarrotado. Engoliu a réplica, resignado. Nenhum raspanete conseguiria beliscar
o prazer daquele passeio a dois.
M.
Hercília Agarez
Vila Real, 19 de Março