sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

D.Branca





Os reguenses chamaram-lhe a Protectora dos Pobres. 
O Governo concedeu-lhe a Ordem da Benemerência. 
A Igreja, pelas mãos do Papa Pio XII, atribuiu-lhe a medalha Pro Ecclesia et Pontifice. 
Numa homenagem realizados nos anos 70,  o escritor  João de Araújo Correia, num discurso proferido no Salão Nobre da Casa do Douro (que está incluído no livro Palavras Fora da Boca), enalteceu-a com estas palavras:
"D. Branca Martinho, embora cultivasse, como Eva, as graças que lhe tocaram no sorteio de encantos, não passou a vida diante do espelho, não adoptou o calão nem sequer sacrificou à moda as suas tranças loiras - de tom acobreado.
D. Branca Martinho não cultivou, como flor de estufa, o receio de se divorciar do estilo comum. Foi sempre igual a si própria. Fez das suas ideias e das suas crenças opinião tão firme, que nunca lhe voltou a face. Foi mulher de carácter.
Último símbolo do catolicismo burguês, tentou resolver no seu meio, e a seu modo, o problema social. Se fosse apenas senhora, ignoraria este problema. Foi-lhe preciso ser mulher para o sentir e abraçar na ânsia de o resolver.
D. Branca Martinho foi protectora dos pobres desta vila. Protegeu-os de maneira que a sua mão esquerda ignorasse o que fazia a sua mão direita? Não foi esse o sistema da sua caridade. Foi caritativa, mobilizando auxiliares contra a indigência, batendo ao ferrolho dos cofres ricos e importunando, se assim se pode dizer, os ouvidos da governação. Horrorizada com os tugúrios onde agonizavam os pobrezinhos da nossa terra, nunca perdeu o azo de pedir, a qualquer espécie de mando, a construção de bairros asseados para gente humilde. Nunca foi ouvida. Mas, é tempo de o governo local honrar a sua memória, substituindo as pocilgas da nossa terra por casario digno de gente.
Dotada de múltiplos talentos, embora não os granjeasse como se vivesse para os servir, obrigou-os a servir a sua causa, que foi a do bem-fazer organizado para o tornar profíquo. Escreveu artigos sobre artigos e promoveu, durante os seus anos válidos, frequentes espectáculos de beneficência. Celebrizou-se o das Andorinhas - graciosa opereta de Camilo Guedes musicada por Almeida Saldanha.
(...)
Fui amigo íntimo de D. Branca Martinho - sem embargo das suas nem das minhas ideias. Demos, durante  muitos anos, inefável exemplo de tolerância mútua.”

1 comentário:

  1. Artur Bernardo R. Martinho23 de agosto de 2014 às 09:32

    Eeu seu neto, que já no final de vida de minha avó Branca, me sentava num mocho ao lado de sua cama articulada, e então, ela ditava e eu passava para as folhas o que ela ia dizendo, de vez enquando pedia-me para lhe ler onde é que íamos. Ela dizia-me que eu tinha uma letra muito bonita e acima de tudo, muito legível. podia ser para me animar, ou então era mesmo verdade. Artur Bernardo R Martinho

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