Devoção

Foto: josé alfredo almeida

"Queriam ver ( e a pura, ardente afeição sempre quer o melhor) um homem da altura de um dedo prender-se, por inspiração,às altíssimas lições de mestre sublime, e, por isso, bem difícil de seguir.(Que se guarda ou perde, na alma de uma criança?) Cerimónias religiosas, numa velha igreja das faldas do Marão, vizinho da neve e dos lobos, mostram-lhe o Santo de Úmbria no altar. (Esqueceu ou guardou, sem saber que guardava, a afável e penetrante expressão sãofransciscana?) Falando às asas e à luz, a sua infância ainda não sofria a formular interrogações. (Uma criança que estende os braços ao Sol nada tem de semelhante com o poeta que canta o Sol?) Porém, a sua atenção era constantemente levada, e sem esforço, no mesmo horizonte: aos serões, depois de historietas de façanhudos bandoleiros, contadas por quem já lá está, também, rezava-se pelos que andavam sobre as ondas ou transviados pelos caminhos; e ao cabo - era infalível - evocava-se o Santo do Alverne, com outro que Roma, ao contrário do instinto colectivo do povo transmontano, continua a ignorar: o Heitorzinho, de Loureiro."

Guedes de Amorim in "Francisco de Assis- renovador da humanidade"