quarta-feira, 30 de março de 2016

Benção

Foto:josé alfredo almeida


e difunde-te
e se as coisas que já tocaste
te parecem mais ainda
então tu foste mais
Multiplica-te
e aumenta-te
e se as horas forem parecidas
então tu coroaste a tua vida
de um amor que não acabou
que medrou
que te difundiu tanto
que a tua alma
em franca razão
viveu desmedida
Funde-te 
e difunde-te
óh benção agradecida!



Dúlia Soares

Chuvas de Março

Foto: josé alfredo almeida

Pontes da Régua-535

Foto:josé alfredo almeida

Pontes da Régua-534

Foto:josé alfredo almeida

terça-feira, 29 de março de 2016

Rio de emoções

Foto: josé alfredo almeida



Aqui, volto sempre.
Na corrente deste rio que habita em mim. 
De oiro e prata. 
Que conta histórias de coragem
 e de luta pelo pão. 
 De águas barrentas e rostos de sal, 
 de silêncios pesados e noites sem fim. 

Aqui, onde a Lua se retrata, 
na corrente da memória eu volto sempre. 
Mesmo que ninguém saiba de mim, 
eu volto, para resgatá-lo.

Este rio 
 habita em mim, corre em mim.

Até ser mar.

Ana de Melo

Ver os telhados

Foto:josé alfredo almeida

Pontes da Régua-533

Foto: josé alfredo almeida

Pontes da Régua-532

Foto:josé alfredo almeida

segunda-feira, 28 de março de 2016

Esperar alguém

Foto:josé alfedo almeida

         

Não há mais sublime sedução do que saber esperar alguém 



Maria Gabriela Llansol

Procura-me

Foto:josé alfredo almeida


Procura-me,
Na complexa linguagem das andorinhas.
Pocura-me nas suas estações de inverno
E na travessia de desertos e mares
Que percorrem em seu voo.
Procura-me,
No gorducho de seu canto
Na lama das paredes
Nas curvas das telhas
E nos varandas com floridos gerânios.
E encontrar-me-ás na tua retina,
E as flores azuis de maio,
No fruto que se abre na noite,
No rio que está presente no teu peito,
E nas folhas verdes das estirpes
Dos campos de vinhas.
Mas primeiro...
Procura-me
Na linguagem complexa das andorinhas
E em seu voo,
Procura-me no seu voo!


Carmen Muñoz.

Pontes da Régua-531

Foto:josé alfredo almeida

Pontes da Régua-530

Foto:josé alfredo almeida

domingo, 27 de março de 2016

Asas

Foto:josé alfredo almeida



Cansei os braços
a pendurar estrelas no céu.
Destino dos fados lassos.
Tudo termina em cansaços
braços
e estrelas
e eu.


António Gedeão

Pontes da Régua-529

Foto:josé alfredo almeida

Pontes da Régua-528

Foto:josé alfredo almeida

Dia Mundial do Teatro





O DIA MUNDIAL DO TEATRO é comemorado em 27 de Março, e uma das mais importantes manifestações por isto é a difusão da Mensagem Internacional, escrita tradicionalmente por uma personalidade de dimensão mundial, convidada pelo Instituto Internacional do Teatro para partilhar as suas reflexões sobre temas de Teatro e a Paz entre os povos. 
Esta mensagem é traduzida em mais de vinte línguas e lida perante milhares de espectadores antes do espectáculo da noite nos teatros do mundo inteiro. 
E  foi esta a mensagem de 2015:"Será que precisamos de teatro?
Esta é a questão que se coloca, por milhares de profissionais de teatro decepcionados e milhões de pessoas que estão cansadas de se perguntarem isso.
Por que precisamos dele?
Hoje, quando as cenas teatrais são tão insignificantes, comparadas com a realidade das ruas, praças e cidades, onde as tragédias reais da vida real são vividas a cada dia.
O que é o teatro para nós?
Galerias e salões banhados a ouro, poltronas de veludo, vozes polidas, actores elegantes, ou, algo completamente oposto: uma caixa preta, coberta de lama e sangue, e uma pilha de corpos nus e raivosos no seu interior.
O que o teatro é capaz de nos dizer?
Tudo!
O Teatro pode nos dizer tudo: como os deuses habitam no céu, e como prisioneiros definham em esquecidas cavernas subterrâneas; como a paixão pode nos elevar, e como o amor pode arruinar, e como ninguém precisa de outra pessoa do bem neste mundo, e como reina este engano; como as pessoas vivem em apartamentos, enquanto crianças definham em campos de refugiados; como todos eles devem voltar para o deserto, e como todos os dias eles são forçados a se separarem de seus entes queridos. 
O teatro pode nos dizer tudo.
O teatro sempre foi e sempre será.
Ao longo dos próximos cinquenta ou setenta anos, o teatro será particularmente necessário. Com efeito, se observarmos todas as artes, para o público, é apenas o teatro que vai de boca em boca, de olho no olho, de mão em mão. O teatro não precisa de intermediários para operar entre os seres humanos. É uma parte transparente do universo que não pertence ao norte ou sul, leste ou oeste. Ele é a própria essência da luz que brilha nos quatro cantos do globo e é reconhecido por qualquer pessoa, seja hostil ou amigável.
E precisamos das mais diferentes formas de fazer teatro. No entanto, penso que, entre todas as formas possíveis de teatro, as mais necessárias são as arcaicas. E o teatro ritual não precisa, necessariamente, se opor ao contemporâneo. A cultura secular está cada vez mais enfraquecida e o que é chamado de "informação cultural" tem sido gradualmente afastada e substituída por “entidades” simples, bem como nossa esperança de encontrá-las um dia.
Mas eu posso ver isso claramente agora: o teatro tem suas portas abertas amplamente. Entrada gratuita para todos e todo mundo.
Para o inferno com artigos electrónicos e computadores. Basta ir ao teatro, ocupar fileiras da plateia, dar ouvidos às palavras e ver atentamente as imagens ao vivo. É o teatro na nossa frente, não o desprezemos e não percamos a chance de participar dele - talvez a mais preciosa oportunidade que temos de compartilhar nossas vidas vãs e apressadas.
Precisamos de teatro em todas as suas formas. 
Mas, seguramente, há uma que ninguém precisa: Estou falando do teatro dos jogos políticos, teatro de "ratoeiras" políticas, teatro de ideias políticas fúteis. O que nós certamente não precisamos é de um teatro de terror diário, individual ou colectivo. O que não precisamos é de um teatro de cadáveres e sangue nas ruas e praças públicas, na capital ou nas cidades do interior, de um teatro hipócrita de confrontos entre religiões ou entre grupos étnicos."

Anatoli Vassiliev

sábado, 26 de março de 2016

Parar na paisagem

Foto: josé alfredo almeida




Às vezes tudo é tão estranho 
que não basta continuar a andar.


Alfonso Berrocal

Tudo está por fazer





    Há que fazer muitas coisas!
Abrir o sol, abrir os cortinados
que já teremos tempo suficiente
para beber as sombras quando acabe o dia.

Tocar guitarra
e lançar sementes ao vento
e aconchegar num altar secreto
as tristezas novas que nos guarda o dia

Há que fazer muitas coisas:
retomar a canção velha e perdida,
beber as suas águas, caminhar na sua terra
enquanto sabemos que ainda é nosso o dia.

E aprisionar a sombra
(ela sofre pesadelos tremendos)
é nostálgica e cheia de loucuras:
torna-nos trágicos a metade do dia.


Matilde Casazola 

Pontes da Régua-527

Foto:josé alfredo almeida

sexta-feira, 25 de março de 2016

Em segredo

Foto: josé alfredo almeida


Envias-me uma sombra
e eu sei que és Sol noutro lugar.



Constantino Mendes Alves

Amanhece

Foto: josé alfredo almeida



A criança que eu fui não imaginava paisagens como esta.
Pertencia-lhe.



Isaac Pereira

Pontes da Régua-526

Foto:josé alfredo almeida

Luz que nos protege

Foto:josé alfredo almeida



Não sei quando virá o amanhecer,
por isso
abro todas as portas



Emily Dickinson

quinta-feira, 24 de março de 2016

Paisagem muito azul

Foto:josé alfredo almeida



Escrevo muito simples e muito nu. 
Por isso fere. 
Sou uma paisagem cinzenta e azul. 


Clarice Lispector

Régua à tardinha-6

Foto:josé alfredo almeida

Pontes da Régua-525

Foto:josé alfredo almeida

Palavras com pêlo

Foto: josé alfredo almeida



Os gatos são palavras com pêlo. Os gatos, como as palavras, rondam à volta dos humanos sem nunca se deixarem domesticar. É tão difícil meter um gato num cesto quando temos um trem para pegar do que ir à nossa memória caçar a palavra exacta e convencê-la a tomar o seu lugar na página em branco. Palavras e gatos pertencem ambos à raça dos inefáveis.


Erik Orsenna

quarta-feira, 23 de março de 2016

Barco na paisagem-87

Foto: josé alfredo almeida

Pontes da Régua-524

Foto:josé alfredo almeida

O meu Moledo-100






De repente a certeza
da extrema solidão.
Três amores (são quatro)
a vida e seus compassos
um canário e um cão.

Nada é meu, nunca foi.
O que sempre doeu
ainda dói.



Renata Pallottini


Rimas do silêncio

Foto:josé alfredo almeida



Nada há mais eloquente
Que o silêncio das pedras
E o velho ferro da vedação
Que ainda permanece aberta.

As atravessa o sol ardente.
A brisa brinca com elas.
A chuva as escurece
E o tempo amarra com corda
Sua solitária beleza.

E nas entranhas do tempo
Guardam grandes segredos
E tudo o que lá existiu
Está na essência de estes versos.

Silêncio!
Só silêncio...



Carmen Muñoz.

segunda-feira, 21 de março de 2016

Lição de geometria

Foto:josé alfredo almeida



Lição de geometria:
linhas paralelas,
lua (quase) círculo.


Escalou o azul
à revelia.
não é seu, aquele céu.

É tão belo o dia!
Vou pedir ao sol
que troque comigo.



M. Hercília Agarez

Rio da luz

Foto:josé alfredo almeida



basta uma pequena luz
e tudo muda 
mesmo sem querermos


Francisco d`Eulália

Pontes da Régua-521

Foto: josé alfredo almeida

Que frio....!

Foto: josé alfredo almeida

Os Desenhos de Ana Margarida-10








cercados de poesia
por todos os lábios


Líria Porto

Luz do rio

Foto: josé alfredo almeida

domingo, 20 de março de 2016

Suave luz

Foto:josé alfredo almeida

   Régua, ontem às 18.30 horas



- é quando sobe o rumor da água,
a secreta linguagem do rio
que não se desvenda, porém murmura
ao ouvido de quem retarda o passo
a escutá-lo.


gonçalo bruno de sousa

Régua à janela

Foto: josé alfredo almeida

Cartaz Cultural





                         A ver e a ouvir no Teatrinho da Régua
                  - dia 25 de Março pelas 21.30 horas

Corpo sem chão




Corpo sem Chão
Autora: Aida Borges
Editora: Chiado Editora (2013)




"No entanto, se o religioso está inscrito no mais genuíno da nossa humanidade, não é um dado novo que seja tantas vezes instrumentalizado com fins perversos. O caso aqui retratado teve, sem dúvida, os seus desacertos, estes bem estampados no decurso da narrativa, e Aida Borges teve o condão de não lançar à maneira de juízo, mas de o tomar no seu realismo, resgatando nele o essencial."

                                                                                                       José Manuel Garcia Cordeiro
                                                                                                       Bispo de Bragança-Miranda




"Este romance fala de milagres, de crenças e descrenças, de amores e de paixões, de vida e de morte, de amizade e de traição, de encontros e desencontros, de ideias e opiniões, de sonhos e de esperança e em si mesmo encerra vários dramas secundários que servem o drama central, embora alguns destes momentos ditos secundários pareçam, por vezes, quer assumir relevo maior, para depois acabarem por ceder espaço à ideia inicial. Percorre vários tempos e várias gerações e recorda-nos a vida, no seu sentido mais lato, da população de uma aldeia localizada em Trás-os-Montes e que a autora quis manter com o nome próprio e não fictício: Vilarchão, no concelho de Alfândega da Fé.
O enredo assenta a sua estrutura numa história real, que ocorreu naquela localidade e que, tanto seja do nosso conhecimento, excluídas as notícias da época e uma ou outra breve referência posterior, nunca foi trabalhada em qualquer publicação, ou seja no campo da história local, seja no da ficção. 
Trata-se de um episódio da década de quarenta do século passado que ficou conhecido por "Santa de Vilarchão" e que aqui é retratado com um grande sentido de responsabilidade e de verdade, sem juízos de valor da narradora, a não ser aqueles que decorrem das opiniões de vários personagens da época que retratam com realismo o que então se disse a favor ou contra, sendo disso testemunhas as inúmeras pessoas ainda vivas que viveram esse tempo e aquelas que, como o autor destas notas, ouviu falar, da boca de um avô que chegou a transportar, num carro de machos, de Vila para Vilarchão, gente vinda de longe para visitar a Santa."

Francisco José Lopes

Pontes da Régua-520

Fotojosé alfredo almeida