domingo, 30 de novembro de 2014

Eu estou aqui

Foto: josé alfredo almeida


Estou

e num breve instante

sinto tudo

sinto-me tudo


Deito-me no meu corpo

e despeço-me de mim

para me encontrar

no próximo olhar


Mia Couto

Pousio

Foto: josé alfredo almeida


A vida

é o bago de uva

macerado

nos lagares do mundo

e aqui se diz

para proveito dos que vivem

que a dor é vã

e o vinho

breve.


carlos de oliveira

Belo rio

Foto: josé alfredo almeida

Como a água

Foto: josé alfredo almeida


Às vezes julgo ver nos meus olhos
A promessa de outros seres
Que eu podia ter sido,
Se a vida tivesse sido outra.
Mas dessa fabulosa descoberta
Só me vem o terror e a mágoa
De me sentir sem forma, vaga e incerta
Como a água.

Sophia de Mello Breyner Andresen

Vive a tua eternidade

Foto: josé alfredo almeida


Vive em cada minuto

a tua eternidade

— sem luto

nem saudade.

Vive-a pleno e forte

num frenesim

de arremesso.

Para que a tua morte

seja sempre um fim

e nunca um começo.


josé gomes ferreira

sábado, 29 de novembro de 2014

O Grande Alfaiate





João de Araújo Correia
Conto: O Grande Alfaiate
 In "Tempo Revolvido"

"Sim, ele tinha nascido naquela pequena cidade - metida numa cova, entre granitos de forma reboluda, pinheiros bravos e oliveiras comidas de ferrugem. Mas, aquela pequena cidade, ninho de fidalgos cheios de orgulho e plebeus subservientes com o sangue velho, estagnado em três solares decrépitos, mal o conhecia.Não se lhe dava de semelhante patrício. Era como se não existisse, porque se atrevera a ganhar fama, fora da sua terra, com o alfaiate. Homem de sangue vermelho como o coração das melancias, tinha-se elevado a umas alturas que destoavam da sua condição. Era um mecânico, embora de agulha e apesar de as irmãs, já velhinhas, trajarem um pouco à lei da fidalguia. Como beatas de grande observância e infalível assiduidade a todas as funções, adquiriram, como o cheiro do incenso, uma pontinha de distinção - contágio dos turíbulos, do oiro dos altares e de muita vela acesa em dias de festividade. Cobriam-se de vidrilhos e metiam as mãos, só os ossos, em espessos regalos.
O Mano, como lhe chamavam, puxando à rica ou à prosapiosa, vinha visitá-las uma vez por ano- por ocasião da grande festa de nossa Senhora do Monte. Mas, como ninguém fizese caso delw, mal saía à rua.Passava o tempo à janela, no andar cimeiro de vestusta moradia, comprada a um mercador de panos arruinado.
Sem sair da janela, que tinha na bandeira vidros multicores, o visitante anual, devoto da Senhora, observava tudo. Com óculos redondos como pratos da balança, parecia que pesava o poviléu festivo, que formigava em baixo, no rossio da cidadezinha, erguendo os varapaus, dando vivas e fazendo grande barulho com tocatas de rudes instrumentos, bombo e ferrinhos, amaciados com música de harmónio.
À hora da procissão, visita da Senhora à cidadezinha, que lhe beijava os pés durante o ano, o alfaiate regressava à infância. Depois de admirar o vestido, o manto e coroa da padroeira, pedia-lhe, curvando a fronte, mais um aninho de vida.
No rasto luminoso da Senhora, logo se lhe erguia do chão uma avantesma. Pesava-a com óculos redondos, condenando-a às profundas dos infernos.
Era um tal mostrengo! Representava, em pedra de cantaria, já denegrida, um soldado colossal, com a arma encostada ao peito e, em boca da arma, uma baioneta. Mas, tão horrendo de cara e aparato, que fazia chorar as criancinhas.
Que faz aqui este espantalho?, perguntava o alfaiate. Levem-no daqui e ponham-no acolá, à beira das coirelas. para espantar pardais. A minha terra, que diabo, merecia outra coisa. Eu, se fosse à Câmara, tirava-o daqui para as coirelas...Substituía-o por coisa mais bonita, como, por exemplo, um chafariz.
E o homem de óculos redondos já via o chafariz a pingar água, de taça em taça, como centro de mesa antigo, até molhar a toalha. Fazia, um pouco à toa, esta comparação.
Certo é que se punha a conversar com o chafariz futuro. Ia tirando do peito, pulga a pulga, as suas recordações, os seus amuos, os seus despeitos. E, na ponta, da unha, oferecia-os ao chafariz.
Era alfaiate na capital. Vestia os ministros, que lhe apertavam a mão e o elogiavam. No tempo do rei, chegou a talhar, para o príncipe real, uma casaca. Depois deste feito, prometeram-lhe o hábito de Cristo. Mas, veio a República, lá foi o hábito. O conselheiro, que lho prometera, sob palavra de honra, disse-lhe assim: agora, menino, governa-te com a canalha.
Mas, a canalha não era bem canalha. Eram os novos ministros, que davam lições de elegância ou, a pouco e pouco, a iam adquirindo. Eram os deputados, que desciam das aldeias mal vestidos, e ele transformava, num minuto, em figurinos. Era o corpo diplomático...Eram os banqueiros. Era, enfim, a nova aristocracia.
Ele enroupava-a como se fosse velha, cheia de musgo, nascida para bailes, recepções e estreias de teatro lírico. Não queria perder, com facilidades próprias de revolução, a fama que adquirira de primeira tesoura do país.
(...)
De ano para ano, tantas vezes olhou para o tremendo busto do soldado, que deixou de o ver. No lugar do corpanzil de trincheira, com a espingarda enconstada ao peito, viu-se a si próprio, com a fita estendida no acto de lavrar medidas.
E comandava. Dizia-lhes: cuidado com a cava. Dá-lhe mais peito, homem!Bem vês é obra de cinta, para o Senhor Conselheiro. Se lhe  não dás peito, a casaca sobe. O Senhor Conselheiro vai a palácio ridículo. Em vez de casaca, levará nos ombros mochila de galucho.
De tanto se ver, no lugar do soldado, começou a ser feliz, cada vez mais feliz de ano para ano.Disse às irmãs que eram horas de receber como esposa a velha actriz - ainda bonita.
-Quero que veja a estátua!
-Que estátua?
-A minha, manas! Sempre na igreja, aposto que ainda a não viram. Pois, olhem que está bonita. E aquela relva, tão macia...Já viram, manas?
Areou-se-lhe o juízo. Mas, passou a alfaiataria sem impedimentos. Casou com a actriz, vendeu a quinta do Sul e veio acabar os dias à cidade natal - escondida entre pinheiros bravos, reboludos penedos de granito e oliveiras comidas de ferrugem. Sem sair da janela, que era ali o seu poiso, debruçava-se para o rossio e deixava cair, sobre o passeio, um fio de baba glorioso.
Comia bem e bebia melhor. Arredondou e coloriu a face. Quebrou os óculos. Disse que não precisava deles para ver a estátua. A mulher e as irmãs, chorosas de o ver assim, murmuravam: que pena...
-Que pena? Eu sou o homem mais feliz do mundo. A Câmara, afinal, cumpriu a obrigação. Mas, não sei bem como foi...
Num dia de procissão, com um olho posto na estátua, outro na Senhora, acabou."

João de Araújo Correia


Leitura

Deste revolver do tempo é bom exemplo "O  Grande Alfaiate", que é também um conto exemplar da ligação à terra, aqui em antífrase de amor-ódio, que se afasta do bucolismo romântico do casario idílico ou do descampado sentimental, da lavoura popular e da paisagística de ressonância anímica. Num ambiente de povoação, que é o da terra humanamente organizada, mantêm-se neste texto a tensão, corrente no autor, entre a linearidade da história que se conta  e o instantâneo de flagrantes episódios, tensão essa que, por se manifestar estabilizada, caracteriza as personagens de um modo afim do dos impressionistas, em laivos descritos de fugaz sugestão, de jeitos pessoais, falas e atitudes, que condensam num singular momento (aqui, o de um homem à janela a contemplar uma estátua) toda a existência de ascensão social e de ânsia pelo respectivo reconhecimento.
Trata-se de um alfaiate  que deixou a sua terra natal, no Norte, para ir fazer carreira em Lisboa, e que nela tem êxito, vindo anualmente visitar as irmãs ao ninho provinciano, mas decepcionando-se ante a indiferença que lhe manifestam os seus conterrâneos, que não mostram considerá-lo, acha ele, de acordo com o estatuto a que o sucesso profissional obtido o guindou.
(...)
E "num dia de procissão, com um olho posto na estátua, outro na Senhora, acabou"; o destino do alfaiate cumpriu-se. Mas o talento do contista faz desta conclusão abrupta e seca, na sua relação com a intensidade de paroxismos anteriores, uma extinção de voz que anula a mescla da sua narrativa com o discurso interior da personagem, reduzindo aqui o texto a simples registo, pois a vida deixou de existir. Mas esse registo, com a sinalização do olhar "na estátua" e "na Senhora", tornou-se numa espécie de gloria in excelsis, dada em paz e serenidade, en(m...)fim, representando o final do sofrimento, o da vida e o do conto."

Maria Alzira Seixo
Universidade de Lisboa 

Silêncio de Deus


Foto: josé alfredo almeida


Escuto mas não sei

Se o que ouço é silêncio

Ou deus



 Sophia de Mello Breyner Andresen

Roteiro dos sentimentos

Foto:  josé alfredo almeida

Alguém que andava a ver se te esquecia
e a cuja memória, por isso mesmo,
regressavas como a melodia de uma canção da moda
que todos trauteiam sem querer,
ou como a frase de um anúncio ou lema;
alguém assim, agora,
provavelmente
(seguramente) sem o saber,
começou, finalmente, a esquecer-te.

Hoje és menos.

Roberto Fernández Retamar

Cores da minha infância

Foto: josé alfredo almerida


Troco-me por ti 
Na brasa da fogueira mal ardida 
renovo o fogo que perdi, 
acendo, ascendo, ao lume, ao leme, à vida.


E só trocado, parece, por não ser 
na verdade conjugo o velho verbo 
e sou, remido esquartejado, 
o retrato perfeito em que exacerbo 
os passos recolhidos pelo tempo andado.


Pedro Tamen

Como uma árvore

Foto: josé alfredo almeida


Ah! Se eu imitasse a alegria das árvores e do vento

que riem sem motivo

Mas não. Ando triste.

Já não me contento em sentir-me vivo…

(E que outro destino existe?)


José Gomes Ferreira

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Voltar a encontrar

Foto: josé alfredo almeida


Perco-me em abismos que me chamam.
Como manter um caminho linear?
Como percorrer a vida sem cair,
sem me perder?
Como evitar,
quando eu não quero ver...
Ou
quando a vida me trai? 

Como, se há estradas como céus e abismos como rios?
Não posso suster a vida...
Como uma nuvem, sobrevoar ao ritmo da natureza.

E escutar.
Dentro de mim.
Que o que perdi, 
o essencial...
Um dia, 
quem sabe, um dia vou voltar a encontrar.


Ana de Melo

Tivesse eu sabido...

Foto: josé alfredo almeida

 A Régua, hoje as 12.30 horas....



Tivesse eu sabido, quando a vida era um vento tépido e feliz,

Brando e ruidoso na aurora e na névoa brilhante do orvalho,

Que havia de chegar o tempo em que, suspirando os corações diriam:

“Tivesse eu sabido…”

Nem sequer as rosas rindo ao beijarem-se,

Nem, ao sol, o mais encantador riso ondulante do mar,

Teriam vindo fascinar a minha alma para que neles reparasse.


Agora o vento é como uma alma desterrada a rezar inutilmente

As preces que não conseguimos ouvir se o coração lhes resiste,

Agora que a minha própria alma, à deriva e perdida como o vento, suspira:

“Tivesse eu sabido…”



A. C. Swinburne

28 de Novembro de 2014




Os aniversários são sempre motivo de regozijo; a sua celebração significa que é mais um ano que passa na vida quer das pessoas, quer das instituições. Neste caso, a AHBVPR celebra o seu 134º aniversário, o que faz dela a mais antiga do Distrito e uma das mais antigas do País, motivo de orgulho para todos nós.
Para mim, escrever sobre os Bombeiros portugueses não é tarefa fácil, já que, ao longo da minha carreira profissional, várias vezes tive que fazer reportagens onde os bombeiros foram intervenientes, reportagens essas que em alguns casos me marcaram para sempre. Nunca esquecerei aquele mês de Setembro de 1985, pois coube-me a mim fazer a reportagem para a RTP da grande tragédia que ocorreu em Armamar e da qual resultou a morte de 14 soldados da paz. Foram momentos de grande consternação em que, à medida que avançava, ia encontrando (e obrigado a filmar por dever profissional enquanto as lágrimas me corriam pela face) os corpos carbonizados daqueles homens que deram a sua vida em serviço do próximo.
(...)
Aproveitando este aniversário, quero prestar a minha homenagem a todos os bombeiros portugueses, que são um exemplo para o Mundo, por vezes pagando com a própria vida esse serviço que prestam à Comunidade, fazendo-o decerto com gosto, mas também sob um perigo constante.

E hoje, parabéns aos Bombeiros da Régua!

João Rodrigues

28 de Novembro de 1880

O convite para o acto de inauguração da AHBV do Peso da Régua 


Quando se celebram as cerimónias do 134.º aniversário da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua evoca-se o convite manuscrito pelo Comandante Manuel Maria de Magalhães:

"Tendo  de proceder-se no dia 28 de corrente à inauguração Bombeiros Voluntários do Pezo da Regoa, pelo presente são convidados os Rev. Sócios activos da mesma associação para assistirem aos festejos que nesse dia devem ter lugar, devendo comparecer, pelas 10 horas da manhã do referido dia, na Casa da extinta Associação Comercial, devidamente fardados, para dali se dirigirem em formatura à Igreja Matriz assistirem a uma missa que há-de celebrar-se para comemorar o acto de inauguração e à bênção das bombas."

O resto do programa de 1880, que infelizmente  desconhecemos, haveria de ser apresentado aos mesmos sócios durante uma  reunião. 
Mas, os reguenses podem já  conhecer o actual convite e que a eles também é dirigido para participarem nas cerimónias do 134º aniversário da Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários do Peso da Régua  que, no dizer do  então Presidente da Câmara Dr. Joaquim Claudico de Morais, é  "instituição tão civilizadora, humanitária e útil" .

Esta é ainda a melhor  maneira de conhecermos mais um pouco da  história dos Bombeiros da Régua através deste documento histórico que é o convite manuscrito pelo Comandante Manuel Maria de Magalhães e, sobretudo, perceber o que ele e mais 27 sócios fundadores souberam legar para o nosso futuro: uma instituição humanitária que, com apesar de alguns maus momentos, ao longo da sua existência, permanece  fiel aos ideais primitivos e está  moderna e actuante, servindo sempre Bem Comum e cumprindo um única  lema: Vida por Vida.

E, sem margem para dúvidas, aqueles nossos antepassados também nos deixaram o seu exemplo de fraternidade e de generosidade para seguir e manter vivo. 

José Alfredo Almeida

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Memórias do Congresso de 1980

Congresso dos Bombeiros Portugueses- Régua, Setembro de 1980 


Quando o Congresso dos Bombeiros realizados nesta vila, de 10 a 14 de Setembro, tivemos a honra da presença do Primeiro Magistrado da Nação, General Ramalho Eanes que, além de presidir à sessão solene que todos devem estar recordados se realizou no Cine -Teatro Avenida no dia 14-9-80 bem como as outras solenidades, assistiu ao cortejo das corporações, numa tribuna, para o efeito erigida junto ao edifício da Casa dos Douro.
O Presidente da República, além da respectiva comitiva, fez-se acompanhar da sua esposa e sua presença no referido congresso foi umas das principais notas que se podem recordar e enaltecer.
Os bombeiros voluntários da Régua fizeram a respectiva guarda de honra com todo o seu corpo activo formado junto do Quartel, tendo depois o Presidente da República passado revista à Corporação, e felicitado o respectivo Comandante Carlos Cardoso dos Santos, pela forma como soube apresentar-se e que constituiu um dos pontos fulcrais da visita presidencial.

Jaime Ferraz

Futuro com história


Foto: José Castro


          Aqui estão os Bombeiros Voluntários  da Régua do presente e do futuro: em mais  uma missão de um combate a  um fogo urbano, em  Setembro de 2014.

           Passaram 134 anos desde a sua fundação, o em 28 de Novembro de 1880, mas  sempre fiéis aos princípios e aos  valores morais dos bombeiros fundadores,  continuam a ser uma referência cívica, cultural e ética da nossa sociedade.    

Passado com rosto e nome





O Bombeiro do Quadro de Honra  Manuel Pinto - Aqui está o rosto e o nome de um bombeiro voluntário da Régua, o meu amigo Manuel Pinto, que nos anos 50 e 60 pertenceu ao Corpo Activo comandado pelo saudoso Cdte Carlos Cardoso.  
Foram homens generosos como estes que fizeram - e continam a fazer-  maravilhosas e gloriosas páginas da História dos Bombeiros da Régua - com 134 anos a prestar um serviço público para a comunidade reguense.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Primeiro Comandante dos Bombeiros da Régua

Retrato do Comandante Manuel Maria de Magalhães (1880-1892) 



"(...) ninguém desconhecia que fora ao prestígio de Magalhães que esta Associação se fundara e, não só isso, vingara vencer dificuldades, mercê da sua vontade e dos seus esforços."

In Livro de Actas da Sessão Extraordinária de 10 de Outubro de 1892




Manuel Maria de Magalhães, filho de Aires Maria de Magalhães e de Virgínia do Carmo Pereira, nasceu em 21 de Março de 1845, na freguesia de Santa Maria, em Bragança e faleceu, com apenas 47 anos de idade, no dia 10 de Outubro de 1892, pelas 19.30 horas, em sua casa, na Rua Serpa Pinto, no Peso da Régua, estando o seu corpo sepultado, em jazigo de família, entretanto edificado  num talhão de terra - doado pela Câmara Municipal do Peso da Régua -, no cemitério municipal. 
Exerceu as funções de escrivão de direito, no Tribunal da Comarca do Peso da Régua. Mas evidenciou-se, no sociedade reguense, por organizar um grupo de cidadãos que pretendiam constituir no concelho do Peso da Régua uma companhia de bombeiros voluntários, com o objectivo de ser dada melhor utilização à bomba de incêndios adquirida pela Câmara Municipal, em 1873 e foi o primeiro Comandante da Companhia de Bombeiros da Régua - assim se dizia ao tempo - iniciando funções no dia 28 de Novembro de 1880, a data por si escolhida para realizar na casa da extinta Associação Comercial, sita na então Rua da Boa Vista - hoje é a Rua Serpa Pinto-, os festejos da inauguração da Associação, e cessou-as no dia 10 de Outubro de 1892 (e não em 1904 como vinha a constar), isto é, a data do seu falecimento.) 


José Alfredo Almeida

Outro olhar

Foto: Carlos Teixeira

Levaram-me pela mão

Foto: josé alfredo almeida


Longe longe
como a um cego
levaram-me pela mão 


Giuseppe Ungaretti

Fazer milagres

Foto: josé alfredo almeida


Contigo nos meus braços
sou capaz de atravessar paredes,
tornar-me invisível,
fazer milagres.

António Barahona

Inventário dos dias

Foto: josé alfredo almeida


Morro do que há no mundo:
do que vi, do que ouvi.
Morro do que vivi.
Morro comigo, apenas:
com lembranças amadas,
porém desesperadas.
Morro cheia de assombro
por não sentir em mim
nem princípio nem fim.
Morro: e a circunferência
fica, em redor, fechada.
Dentro sou tudo e nada.


Cecília Meireles

Pontes da Régua-20

Foto: josé alfredo almeida

O meu Moledo-74



terça-feira, 25 de novembro de 2014

O meu Moledo-73


Foto: josé alfredo almeida


"O ressurgimento das Caldas do Moledo, vítimas da incúria de várias gerações, se não começar por grandes coisas, comece por pequenas coisas, tão importantes como as grandes quando se quer ressurgir em toda a linha.Dar abrigo a quem procura o Moledo é uma pequena coisa importante."

Outubro de 1971


João de Araújo Correia

Paraíso murado

Foto: josé alfredo almeida



"Aqui ando, sonâmbulo, a cirandar no meu paraíso murado, como um Adão sem inocência, tragicamente consciente de que vou ser expulso dele muito em breve. A sorte do primeiro homem! Ele, ao menos, foi feliz enquanto a felicidade durou."


Miguel Torga

Montes Pintados-4


Foto: josé alfredo almeida




Perco-me na paisagem
Planáltico, também,
E, como ela, aberto aos largos  horizontes.
Deambulo, parado,
O silêncio das fragas
E a música do vento.
Deixo que o meu pensamento
Não tenha direcção
E seja apenas uma ondulação
A mais
Da natureza
E canto, sem cantar,
Versos incertos, na incerteza
de mais tarde os lembrar.

Miguel Torga

Nuvens perdidas

Foto: josé alfredo almeida

E tudo se desfaz em pó,
em nada.
Como se o ontem não tivesse existido.

Não há memória da ternura,
não me lembro sequer
o quanto te amei.

Quero sim a distância,
o fim deste nada.

Dos silêncios pesados.

Das minhas mãos crispadas.

Não me lembro de nada.
Só desta ausência,
de me sentir cheia de nada.

Absolutamente nada.


Ana de Melo

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Quinta dos Frades

Foto: josé alfredo almeida



  Esta é a bela e magnífica casa da Quinta dos Frades, talvez uma construção dos anos 50, numa meio de uma propriedade  com mais de duzentos hectares de vinhas, com vistas para o rio Douro, e que mais parece um palácio de um jardim fantástico no Éden, que é como quem diz, no nosso maravilhoso Douro vinhateiro.

Espelho da eternidade

Foto: josé alfredo almeida



                    Um lugar divinal esta Quinta dos Frades, uma das mais belas quintas do Douro...
Com muita história e histórias, de bons e grandes vinhos-  Quinta dos Frades- Reserva, Vinha dos Deus, Vinhas dos Santos - de memórias de encantar e esta paisagem que é um espelho da eternidade.

Melancolia

Foto: josé alfredo almeida


Longamente esperei
Nenhum encontro estava combinado
Era apenas fiado
Na intuição do amor
Que confiava.
Afinal, não vieste
E advinho o motivo:
O lume da velhice não aquece.
Arde e parece
Vivo, 
Mas arrefece.


Miguel Torga

Todas as manhãs-2

Foto: josé alfredo almeida


Nascer e renascer...
Ser homem quantas vezes for preciso.
E em todas colher,
No paraíso
A maça proibida
E comê-la, a saber
Que o castigo é perder
A inocência da vida.
(...)

Miguel Torga

Todas as manhãs

Foto: josé alfredo almeida



Uma alvorada do começo do  mundo.Estou a olhar os montes com a sensação de que os surpreendo no momento da Criação. Tem este dom a paisagem duriense: dá-nos sempre a impressão de que nasce todas as manhãs.


Miguel Torga

domingo, 23 de novembro de 2014

S. Domingos

Foto: josé alfredo almeida

Lanço os versos à terra
A Lua é boa e o suor honrado.
E no chão semeado
Ergo uma negra cruz da minha altura.
Cruz tosca e sibilina
Que esconjura
E assina...

Miguel Torga

Renascer

Foto: josé alfredo almeida







"Porque se nas Sagradas Escrituras tudo começa pelo Verbo, no livro da pedra da nossa região bem amada a lição é outra. Aqui no princípio era o homem. O homem duriense."

Miguel Torga



Montes Pintados-3

Foto: josé alfredo almeida

Amanhece
Pelas frestas da vida
A luz
Reluz
Vai começar o dia dos sentidos
(...)

Miguel Torga

Era a Régua





 "(...)Na Régua há uma demora. Temos de chamar o Grilo, reave os nossos confortos...Olha para o rio!
Rolávamos na vertente de uma serra, sobre penhascos que desabavam até largos socalcos cultivados de vinhedos. Em baixo, numa esplanada, branquejava uma casa nobre, de opulento repouso, com a capelinha muito caiada entre um laranjal maduro. Pelo rio, onde a água turva e tarda nem se quebrava contra as rochas, descia com a vela cheia, um barco carregado de pipas. Para além, outros socalcos, de um verde pálido de reseda, com oliveiras apoucadas pela amplidão dos montes, subiam até outras penedias que se embebiam, todas brancas e assoalhadas, na fina abundância do azul. Jacinto acariciava os pêlos corredios do bigode:
- O Douro, hem?...É interessante, tem grandeza.
(...)
Eu desarrolhava uma garrafa de Amontillado - quando o comboio, muito sorrateiramente, penetrou numa estação. Era a Régua."


Eça de Queirós in "A Cidade e as Serras"   

sábado, 22 de novembro de 2014

Pontos do rio

Foto: josé alfredo almeida

(Que seria de nós
se nos roubassem os pontos de interrogação?)


mário castrim

Rodeado de silêncio


Foto: josé alfredo almeida



Estou sem palavras. Olho a casa paterna, o espaço sagrado que me resta, e não consigo articular o silêncio que me rodeia e me enche.

Miguel Torga

Rústico

Foto: josé alfredo almeida

Cá estou eu de novo plantado
no centro  da minha paisagem

Miguel Torga

Caminhar

Foto: josé alfredo almeida

P’ra ti guardei
Coisas simples como estar à espera
Manter o pão quente
Deixar o vinho abrir-se
Em mil sabores
Guardei-me das tentações
das sombras do desejo
das vozes
dos segredos

ana paula tavares

(Re)Conhecer a Régua-194


Foto Alvão


    Sem conseguir precisar, fica aqui uma grande foto da  Régua, dos anos 40 e 50 do séc. XX

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Voltar para trás

Foto: josé alfredo almeida


eu que ainda acredito que vais voltar, que
voltas, mesmo que seja só pelos teus livros.


maria do rosário pedreira

Meia Laranja

Foto: josé alfredo almeida


Canta um galo vidente
E diz que cada dia
Que anuncia
É sempre um novo dia
de renovo
E poesia.

Miguel Torga

Ler João de Araújo Correia-54


                         
                          João de Araújo Correia in "Contos Bárbaros"

Terra pintada

Foto: josé alfredo almeida 

Terra lavrada e pintada
Com a ponta da charrua
Tela nua
Colorida,
Onde um gesto compassado,
Sagrado,
Semeia a vida.

Miguel Torga

Mirantes

Foto: josé alfredo almeida


"Olho estes montes circundantes que desde muito cedo me desafiaram a imaginação e as pernas. Todos subi e desci inúmeras vezes, primeiro como ganapo irrequieto, depois como caçador inveterado, e ultimamente como poeta rememorativo. Os horizontes que deles contemplei é que me balizaram a alma. E, agora, que estou no fim, pergunto a mim mesmo o que seria tudo quanto quanto escrevi se eles fossem outros. Nascemos num sítio. E ficamos pela vida fora a ver o mundo do fragão que primeiro serviu de mirante."

Miguel Torga 

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

(Re)Conhecer a Régua-193



Existe um rio

Foto: josé alfredo almeida

                      A Régua, o rio, o céu de Outono, hoje, no meu amanhecer. Eram 7.21 horas... 


                 
No teu poema

(..)

Existe um rio 

(...)
A sina de quem nasce fraco ou forte
O risco, a raiva e a luta de quem cai
Ou que resiste
Que vence ou adormece antes da morte.

No teu poema
Existe a esperança acesa atrás do muro
Existe tudo o mais que ainda escapa
E um verso em branco à espera de futuro.



José Luís Tinoco

Navegando o rio

Foto: josé alfredo almeida