sábado, 29 de junho de 2019

Paragem fortuita




Em que lugar do mundo resplandece
o fulgor
do instante?

José Tolentino de Mendonça


      Como de costume em domingos namoradeiros, decidiram dar uma volta de carro. Sem mapas do A.C.P., desdobráveis lençóis de emaranhados e coloridos caminhos, destronados (ou quase) por uma outra coisa também siglada – GPS, apenas se fizeram acompanhar de vontade comum de verem ou reverem sítios de natureza sempre surpreendente e memórias de pedras incorruptíveis, do esquecimento vencedoras ou por ele vencidas.

    Unia-os, além da reciprocidade dos amores, a sensibilidade que torna o belo mais belo, o vivo mais vivo. A ânsia de saborearem prazeres sem pressas. No tempo de estradas mais curvas do que rectas, de livre trânsito com anuência de paragens em beiras reentrantes, em miradouros de contemplar vistas largas, sedentas de olhares humanos.

     Ela saiu. Talvez para desentorpecer pernas ao léu. Paragem de turista que vento não respeita. Ele é senhor de todos os lugares, em todos os tempos, não deixa de soprar se há penteados femininos em perigo…

     Por trás, pouco verde, comum verde vegetal. E em frente? O destinatário do sorriso, obviamente. Saia uma foto para a troca! O resto é paisagem! 

M. Hercília Agarez
Vila Real, 29 de Junho

sexta-feira, 28 de junho de 2019

Sou

Pintura de Margarida Almeida 



Sou o pó
E vou no vento
Através de rios
E montes
Vou no vento
E talvez eu pouse
Talvez encontre
O mel as areias
Do teu corpo
Trazidas pelo vento


António Ramos Rosa

quinta-feira, 27 de junho de 2019

Lembrar o amigo Nogueira Borges

M. Nogueira Borges 


Entre o sono e sonho,
Entre mim e o que em mim
É o quem eu me suponho
Corre um rio sem fim.

Fernando Pessoa



Era escritor, cronista e poeta. Era um homem livre, um idealista puro e genuíno. Era meu amigo. Partiu, serenamente, deste nosso mundo em crise económica, financeira e social, na noite de 27 de Junho de 2012, em vésperas dos festejos de S. Pedro. Para trás, sem tempo para se despedir de ninguém, deixou os montes durienses da sua infância, no alto de S. Gonçalo, onde “cresceu a ver os montes amarelecerem no Outono e a reverdecerem na Primavera; os homens a subi-los e descê-los alagados em suor e em cansaço”. Era o tempo, o seu tempo da sua meninice, em que lembra: “comiam-se azedas e amoras silvestres, figos lampos ou uvas ainda verdes roubadas nas estremas”. Aqui estava o seu “apelo da terra e o chamamento do sangue”, a marca sagrada em que a “natureza enchia-se de signos que possuíam a maravilhosa simplicidade da criação”. Também eram as marcas da sua identidade e das suas convicções. O destino levou-o até terras de África, mas se no regresso ficou a viver em Vila Nova de Gaia, manteve sempre a fidelidade às suas origens.
Conheci-o, antes de ele o saber, quando, em finais de 1980, comprei o seu primeiro livro, Não Matem a Esperança, edição de autor, ma livraria da Imprensa do Douro, onde havia à venda por um preço barato o único exemplar, perdido na poeira do tempo, uma raridade para mim que, sinceramente me pareceu estar ali à minha espera. Esse pormenor entusiasmou-me significativamente, embora deva dizer que, naquele tempo, eu nada sabia do escritor. Apenas sabia que o seu torrão natal era uma pequena aldeia perto da Régua. Mas alguma coisa eu aprendi com a leitura das 79 páginas que devorei num ápice. Tive a noção exacta que estava diante de homem que pretendia compreender-se a si e ao seu semelhante. Eu tinha diante de mim um homem idealista, de causas e utopias, com um sentido particular de justiça, empenhado na construção de um país mais justo e solidário.
Sobre aquele seu primeiro livro ficaram-me as melhores impressões do escritor de quem nunca pensei vir a ser amigo. A leitura desse livro, que guardo na minha biblioteca pessoal, fez-me pensar de uma outra maneira, com mais consciência da realidade, e no mundo pejado de injustiças e dominado por quem tem fortunas, eu que saíra de uma pequena aldeia e começava a estudar Direito na Universidade de Coimbra, que ele frequentara e onde, por circunstâncias da vida e das dificuldades económicas, não pudera acabar aquele curso.
Sei que a crítica acolheu a sua primeira criação literária com uma referência positiva e agradável para quem se iniciava como escritor. Os mais atentos viram no livro um homem revoltado com as injustiças do seu tempo, uma geração que fez a guerra colonial de África, a coragem de denunciar os males sociais, ao mesmo tempo que, pelas reminiscências da sua infância, dava voz ao homem humilde e pobre da rua e da aldeia.
Vale a pena recordar o consagrado escritor João de Araújo Correia que comparou o seu livro a um colar de pérolas em prosa. E o escritor de nome feito e grande na literatura nacional Fernando Namora foi mais longe ao definir aquela obra como a de um homem com uma visão lúcida e atormentada pelo viver de hoje.
Conheci, anos mais tarde, o homem e o amigo. Conheci-lhe o rosto e a expressão luminosa do seu olhar, a ternura e a elegância dos seus gestos e o tamanho e a forma dos seus pensamentos, a grandeza dos sentimentos. Sentados numa mesa da Casa Teresa, em Matosinhos, a comer a boa sardinha assada, não precisámos de muito tempo para gostar um do outro, de dizer olhos nos olhos o que éramos, o que pensávamos das leis e do ideal de justiça, como algo que pudesse guiar as nossas decisões práticas e melhorar as nossas vidas. Se até àquele primeiro encontro éramos vizinhos na pequenez do mapa de território da nossa região, ficávamos mais próximos pelas experiências humanas, a humildade de procurar a luz para ver nas sombras. Desse primeiro momento retenho tudo o que descobrimos de comum e de diferente e, a partir daí, facilitou a nossa jornada por caminhos abertos a mais afectos. Partilhámos as nossas paixões e as íntimas memórias que nos unem ao Douro, o das paisagens arquitectadas pelo trabalho árduo do homem, os socalcos que produzem o vinho fino bebido em todo Mundo e as proezas titânicas de quem ficou para cultivar a vinha e, assim, é capaz de sobreviver aos preços de miséria em cada nova vindima.
Confesso que esta amizade com o Nogueira Borges ficou assinalada pelo entusiasmo que me tem apaixonado pelas memórias dos bombeiros da Régua. Aquilo que era a matéria do meu estudo e do meu esforço estimulou-o a aprender comigo exemplos de dedicação, altruísmo e solidariedade a que, nos tempos actuais, estamos habituados a dar pouco valor. Mas ele percebeu que o mais importante que eu investigava eram os homens de rosto, de outros tempos, mais generosos e solidários e que, como nós, procuravam fazer o bem nesses tempos já então de egoísmo.
Mas é melhor explicar isto para, se calhar, se entender a importância que ele deu ao meu trabalho. Quando pensei escrever um livro com as memórias dos bombeiros da Régua – e que escrevi e publiquei em 2011 –, ele apoiou-me e apresentou-me à Elvira e ao Vítor, os donos da Editora Mosaico de Palavras, de Rio Tinto. Tinha acabado de publicar o último livro. A nossa amizade tinha encontrado um terreno fértil para se expandir e ele me mostrar cumplicidade e um inexcedível humanismo. Esse seu sorriso e trato afável, parece que estou a vê-los aqui ao meu lado, fixando-me nos seus olhos.
Sobre os Bombeiros Portugueses, aqueles que ele considera os esquecidos da História, fez questão de lhes evidenciar o seu valor e a sua importância, sublinhando o espírito único da sua humanitária missão: “Muitos honestos e simples tiveram, têm e terão os Bombeiros da nossa e de todas as terras. Homens que por um pedaço de nada arriscam a orfandade e a viuvez de quem fica. Sujeitos à traição numa qualquer serra, numa curva de estrada, num morro inacessível, num cavado sem fuga, numa casa em labaredas, numa dedicação de fraternidade. Pessoas destas não gananciam milhões, são felizes na ajuda, não vêm em nenhuma lista da FORBES, não precisam de fingir solidariedades – ELES SÃO A VERDADEIRA HUMANIDADE. Não fogem perante a pobreza – combatem-na; não se desculpam com a escassez de meios – suplantam-na; não se encolhem no perigo – dominam-no; não se esquecem dos que morrem – choram-nos; não se assustam perante o cordão umbilical – erguem a vida; não se importam do esquecimento – deixam escrito o exemplo.”
Guardo o seu livro Lagar da Memória que me enviou pelo correio, manuscrito numa das primeiras páginas com uma dedicatória elogiosa e, de certo modo, imerecida, mas que me honra e me deixa grato para sempre. Quando o Nogueira Borges gostava dos seus amigos, não se poupava em manifestar as suas atenções de estima, afectos e cordialidade.
Sobre o seu último livro, não lhe disse o que pensava e, um dia, fez questão de mo dizer. De forma apressada, reconheço agora, fiz um comentário sentido, escrito numa mensagem, que me disse o emocionou e o fez chorar de alegria. Gostava de partilhar o que escrevi, mas confesso que essa mensagem acabou por desaparecer no meu telemóvel, apagada por outras, mais recentes, que lhe disputavam o espaço.
Lembro-me que, há um ano, fui visitá-lo à Feira do Livro de S. Marta de Penaguião, onde se encontrava a dar a conhecer o seu livro, à espera de um novo leitor que comprasse e lesse o que ele ainda tinha para dizer de nós. Levei comigo o meu amigo e colega de profissão o Dr. Martins de Freitas, que queria comprar o Lagar da Memória mas que, apesar de seu leitor, não o conhecia pessoalmente. Um momento de que ele, mais tarde, gostou e me confidenciou por escrito assim: “Meu AMIGO. Não vou esquecer a sua presença ontem em Santa Marta. ACREDITE. Só lhe digo: OBRIGADO. Ainda para mais COM QUEM FOI”. Aí nasceu uma nova amizade com o Dr. Martins Freitas. Não revelarei nenhuma inconfidência ao dizer que a mesma foi intensa: partilhavam mensagens pelo correio electrónico, momentos irrepetíveis de troca de conhecimentos sobre a vida, as artes, o Douro, a vida difícil dos pequenos lavradores e a literatura dos imortais escritores João e Camilo de Araújo Correia.
A meu pedido, sem qualquer subterfúgio, escreveu duas primorosas crónicas sobre o mundo mágico dos Bombeiros da Régua. No fundo das memórias do tempo de menino, quando vinha à vila Régua, na companhia da família, encontrou na frente do seu olhar o bonito e imponente quartel, desenhado pelo gosto da melhor arquitectura e construído em pedras de granito e de xisto, e retratou figurinhas exemplares que deixaram boas recordações. Mais uma vez, na sua mestria literária, lembrou os primeiros incêndios que viu, o quarteleiro Senhor Zé Pinto, que o emocionou ao revê-lo numa foto antiga. Este homem simples, que vestia fato-macaco, tomava conta das viaturas e limpava as instalações, pertencia àquela raça de “seres que são parte da iconografia de uma sociedade e de uma geração”. Emocionado, trouxe, com retoques de filigrana, lá da Eternidade, o bombeiro João dos Óculos, “o tipografo que ganhava a vida a desenhar palavras no chumbo tipográfico”, morto no ano longínquo de cinquenta três, com apenas 33 anos, no incêndio da Casa Viúva Lopes.
Nessa viagem sentimental ao seu passado, foi buscar alguém que se tornou muito especial na sua vida, uma das “suas mais belas amizades”, a que o relacionou com o jornalista Jaime Ferraz Gabão, que conhecera em Moçambique, mais concretamente em Porto Amélia, no ano de sessenta e oito.
Não posso esconder a minha gratidão pelas palavras que escreveu numa crónica para fazer uma análise crítica muito bondosa ao meu livro, ao meu carácter e, em grande parte, à minha dedicação em nome de uma causa humanitária em que me orgulho de dar continuação ao trabalho de homens exemplares pela sua atitude cívica e ética. Se eu o consegui emocionar com a leitura de algumas passagens do humilde trabalho, ele emocionou-me mais e fez-me sentir que a minha persistência na busca de figuras exemplares dos bombeiros não tinha sido em vão. Aprendi com ele que, depois da vida, e isso não o esquecerei, o que resta dos mais simples, aqueles que são abandonados ao esquecimento, como o teu carreiro Peche, do teu conto que me levou até as lágrimas, é “que a grande riqueza das pessoas é a boa recordação que deixam”.
Gostava de escrever crónicas para os jornais. Fê-lo no Notícias do Douro e, agora esporadicamente, no Arrais. Mantinha a mesma coragem e lucidez e a desilusão de assistir à degradação do Estado Social, da ideia de ter de viver com menos direitos, menos segurança, menos assistência na saúde, nessa enorme treta vendida por políticos sem passado nem memória. Gostava de invocar as suas velhas amizades, emocionava-se com os pequenos nadas, revoltava-se com os sacrifícios das gentes humildes do seu pátrio Douro. Pediu-me para publicar no Arrais (ver pág. da edição de 31 de Maio de 2012), a crónica “Padre e Escritor” – aquela que foi a última – dedicada ao Padre Joaquim Taveira da Fonseca, também poeta, um amigo dos tempos dos bancos da escola primária. Quis fazer uma surpresa ao amigo Quim, como o tratava, para lhe falar de literatura, filosofia, destinos, Deus e seus desígnios, fé, amor, a aldeia da nascença e de descendências familiares convenientes. Tudo aquilo para fazer a recensão crítica, saudável e benigna ao livro No Silêncio da Palavra, obra literária daquele seu amigo, que descreveu como “a revelação do cruzamento com os outros, mormente com aqueles com quem lidamos todos os dias; a procura da misericórdia da vida, esse espaço de tempo limitado pela nossa finitude”.

Creio que, durante estes dois últimos anos, o meu amigo Nogueira Borges encontrou em mim um companheiro para conversar de coisas incomuns, esquecidas no crepúsculo dos tempos, para mostrar a sua indignação com os tais “mercados” do dinheiro e a insensibilidade escandalosa de quem nos governa. Sempre numa observação límpida, mas corajosa, denunciava os grandes males do nosso presente. Cito-o, como bom exemplo, através do trecho de uma sua lúcida e espantosa crónica: “Vivemos um tempo de desgosto patriótico, de míngua financeira e moral. Há quem brade aí pela reencarnação salazarenta de chicote, pés descalços e uma malga de sopa; quem subscreva abaixo-assinados pelo julgamento, nos pretórios nacionais, dos políticos de ontem; os que defendem um castigador emagrecer fiduciário para – num brasileirismo que a indigência do acordo ortográfico já não faz corar – o povo, esse malandro perdulário, cair na real.”
Esta sua militância cívica e activa contrastava com a necessidade urgente de recolher num livro alguns anos de vida: Chegara o seu tempo de recordar, que, como amar, é dos verbos mais sérios da vida”. Chegara, na verdade, o seu tempo, que queria ocupar a “encher as folhas virgens dos seus cadernos, ditar-lhes memórias e hojes…”.

Foram esses percursos da sua vida e dos mundos que percorreu e, outros, sonhou que reuniu no livro Lagar da Memória, em 2011, numa edição da Mosaico de Palavras, ao longo de duzentas e cinquenta páginas “escolhidas na minha vindima literária e esmagadas em pousas de luar. O seu mosto é transparente e genuíno, verdadeiro e honrado”.
Quem quiser pode aí encontrar o homem, o poeta intimista. Nessa obra está o meu amigo em corpo e alma. Lá encontram (quase) todo o seu Douro – aquele que intensamente viveu, conheceu e amou – que imortalizou como se fosse um historiador sem história. Lá encontram, no fim de uma jorna, o carreiro Peche, em carne e osso, que foi sepultado e esquecido numa campa do cemitério de Cambres, os lavradores que vendem o seu vinho a preços espezinhados pelas Casas Exportadoras, as famílias que disputam a Quinta do Pinheiro Manso, sem o benefício de letra A, os chauffeurs da praças de táxis, os miradouros, as festas populares, a Rua dos Camilos, na Régua, a artéria do comércio tradicional da Capital Vinhateira, os barcos rabelos a sulcarem as correntes do rio de mau navegar, as criadas (a Alice) que vai servir no Porto parta fugir à miséria, os lugares de uma infância feliz a correr os caminhos que ligam a Corredoura, a Senhora da Graça, os montes de S. Pedro e de S. Gonçalo, as chegadas das rogas para as Vindimas que “em Setembro despertavam da moleza de Agosto”, o trabalho das pousas, o ritual do trabalho humano quando as uvas chegam ao lagar, as procissões de aldeolas como a de Guimares e os cheiros, a luz de Verão, o lume da lareira acesa no Inverno, o nascer do dia e novos amanhãs com esperança no futuro.
Depois, se ainda tiver tempo, lá está o estudo antes de Coimbra, o militar que fez à força a guerra colonial em África e o cidadão que trabalhou no banco para ganhar o seu sustento… até nos deixar aqui sozinhos.
O meu amigo Nogueira Borges era um homem superior, com uma dimensão ética da vida. Morreu como viveu, isto é, com grandeza: o destino dos homens simples como ele era: “Acreditem-me ou não, o que escrevi SINTO-O. Sabes, a vida é feita por NÓS, ‘OS SIMPLES’, OS QUE ANDAM AQUI COM UMA LUZ NO CORAÇÃO. SÓ TEMOS QUE FAZER UMA ‘COISA’: AGRADECER A QUEM NOS DEU ESSA FELICIDADE!”.
No sublime poema que intitulou de Última Vontade (na pág. 248 do livro Lagar da Memória) fez, sem invocar a letra da lei que aprendera no pouco tempo de Coimbra, o seu derradeiro testamento, antecipando aí a visão da sua morte física, que sabe ser inevitável, sem dramatismo nem ressentimento, para dizer que devem lembrar na sua ausência, assim:


“Quando eu morrer,
As andorinhas farão ninhos
No beiral da casa onde nasci,
Cantando de mansinho
Para que não me interrompam o fim.
Apanhem uma que seja dócil e bela,
Prendam-na às minhas mãos
E deixem-me ir assim com ela”


O que enternece e comove nestes versos não é a fragilidade e a brevidade da existência humana, mas as palavras de um adeus sem lágrimas, sem ressentimentos, mágoas nem rancores, envoltas no ambiente campestre da sua infância, a lembrar a casa onde nasceu. O que viveu, sonhou e amou está ali, feito num breve balanço da sua vida. Em poucas palavras disse tudo de si: o seu mundo em criança e em adulto.
Como epitáfio deixou escrito outro poema para ser colocado na sepultura, ao lado de uma cruz, velas a arder e flores:


“Nasceu sem saber porquê;
Viveu sem que o estendessem
Morrendo sabendo para quê:
Para que na ausência o lembrassem”


Na verdade, é com esta modéstia, de sentimento verdadeiramente humanista, que quer que o recordem, para quem sabia que a sua morte não era fim. Algum tempo antes tinha escrito algo nesse sentido, afirmando que a “a vida é passageira porque a alma é terna”.


“Morrer não é o fim
E quem me diz a mim
Que a minha vida, afinal
Não se renovará num caminho
De amor e carinho”.


Assim, andará, por certo, de luz no coração a voar com aquela andorinha saída do seu poema, sob os Céus do Douro, rio acima e entre os vinhedos, na esperança de uma grande novidade na próxima vindima. Como escreveu na crónica Lembrança de Natal (na pág. 218 do livro Lagar da Memória): “O Douro, esse, não morre, continua a correr, leva nostalgias, sonhos e destroços”.
Com ele (e com a sua andorinha) vai uma parte de mim...
Disseram que estás sepultado num jazigo de família no cemitério de Mafamude. Não sei se se enganaram ou se, distraídos, não te viram passar com a andorinha. Também não sei por que caminhos onde andarás, mas até estou menos triste…. Porque, onde estiveres, talvez passe um rio Douro, como o nosso, onde navegam os velhos barcos rabelos, comandados pelo destemido mestre arrais à proa, carregados com pipas de vinho fin, para saborear no silêncio das tardes de pôr-do-sol de Porto Amélia, na sua saudosa África portuguesa. 

Tenho a certeza que continuas connosco.


se houver uma porta de passagem
nesta vida
que seja o teu abraço
onde o carinho se protege
e abre as suas asas

Daniel Gonçalves



José Alfredo Almeida

Eternamente Douro-867

Foto: josé alfredo almeida

domingo, 23 de junho de 2019

Circunda-te de rosas

Foto:josé alfredo almeida



Circunda-te de rosas, ama, bebe e cala. O mais é nada.



Fernando Pessoa

sábado, 22 de junho de 2019

Estou aqui

Foto:josé alfredo almeida


Toda a paz da Natureza sem gente
Vem sentar-se a meu lado.

Alberto Caeiro / Fernando Pessoa



    Estou aqui. Estavas à minha espera, como de costume. Aqui. Não mudas de morada. Não podes, não queres, mudar de morada. Não te é dado escolher outra. E qual melhor encontrarias? Onde, margens mais belas? Onde o comboio de salgueiros, debruando-te o leito, ali rentes e rectos, à mercê de brisas e de ventos? Onde, a escadaria monumental, não de granito, mas de xisto e terra, muita terra, boa terra? Degrau a degrau vês subir e descer, num vaivém quase contínuo e cruzado, num depressa de respeito às exigências desses vinhedos, a menina dos teus, dos meus, dos olhos de quem te habita. São os teus homens, aqueles de rija têmpera cujo heroísmo conheces como ninguém, os dos rabelos de um ontem, do moirejar de um sempre, sem tempo para te honrar com vénias usadas em patrões, sem descansos para no teu fluir mergulharem os pés de calor inchados, de suor gretados.

    Tu sabes quanto vales. Tu ouves os ahs! de espanto, tu vês os rostos incandescentes de emaravilhamento, tu sentes o mergulho de mãos macias, tu cheiras o perfume das rosas que te saracoteiam os arredores.
    Não sou invejosa, nem ciumenta. Sei escolher os teus momentos para mim. Para comigo trocares agruras e aventuras. Segredos e bazófias. A nossa cumplicidade preenche-me lacunas de emoções. Gosto de ti em todos os tempos, em todas as meteorologias, em todos os teus esgares, do sorriso à raiva, da serenidade à convulsão, da obediência ao desafio.

    Hoje só pude vir no momento mais mágico do teu dia a dia. Ninguém me vê, ninguém me ouve. Sou um vulto com vida dentro. Com muito para te dizer, com vontade de muito te ouvir, com horas a mais para esperar pelas tuas toadas roufenhas.  Com olhos espaçosos para guardar a gama dourada do teu poente luminoso. Estás a adormecer. Deixo-te na paz que mereces. Parto na paz que procuro.



M. Hercília Agarez
Vila Real, 22 de Junho

sexta-feira, 21 de junho de 2019

A magia de um colo




    Uma aparência discretamente senhoril. Uma leveza erecta de corpo cansado. Uma fiada de rugas a servir de colar. Um vestir viúvo. Um cabelo cor de lua cheia. Um sorriso triste de avó contente. Umas mãos com marcas de caminhos andados. Um regaço-placenta de afectos. Uma pele castigada com receio de tocar macieza etérea de algodão.
    Criança refastelada em conforto quente. Carninhas roliças sorrindo saúde. Bem-estar estampado no rosto redondo. Branco sobre negro com a sua simbologia.
    Recanto florido de vasos vários, em cenário com cor e aroma, reverdece a ternura. Ar leve e livre.
    Um perto de início num perto de fim. A lei da vida. Da dependência à independência. E vice-versa. Que assim seja!

    Diz uma máxima francesa que é bom abrigar-se atrás de uma velha sebe. A protecção metaforizada em escolha vegetal sem férias de folhagem. Abrigo e sombra seguros. Também na velhice!

M. Hercília Agarez
Vila Real, 21 de Junho

quinta-feira, 20 de junho de 2019

Eu




Eu tive um sonho. 

Preso por um fio, que alguém libertava.

Tinha mil cores.
E o meu coração era um pássaro no peito, a esvoaçar. 

À espera. 
De ver um sonho a espraiar-se nos ares.

E voou. 

Da margem. Do rio. Do mar.

De dentro mim.



Ana Melo

quarta-feira, 19 de junho de 2019

Eternamente Douro-865

Foto:josé alfredo almeida



Linhas das vinhas
Em arranha-céus:
         Verduras da mocidade!


M. Hercília Agarez

sábado, 15 de junho de 2019

Também somos filhas de Deus…

Foto: josé alfredo almeida



       Até que enfim alguém se lembrou de nós, para aqui abandonadas, esquecidas, dadas ao desprezo. Por mais corpo que tenhamos botado com a idade, por mais que sirvamos de sombras e abrigos, de amparo em escorregadelas curiosas, não saímos da cepa torta. 

      Sofremos mudas e quedas. Vezes sem conta, desde que prantaram na parede traseira da capela, então branquinha de todo, aquela versalhada do homem comprido de nariz e de perna e, pelos vistos, de toutiço, não nos cansamos de a ler e reler, embora a saibamos de cor e salteada. E até sabemos donde raio lhe veio a façanha. A história faz parte do relambório dos entendidos acompanhantes de basbaques aqui chegados sabe-se lá donde, de chapéu por via do sol, de roupa de caminheiros, de máquinas de fotografia à antiga ou de telemóvel à moderna. Como todos os gajos falam línguas, mais pontapé, menos pontapé na gramática, a turistada fica toda a saber que o dito cujo, vindo lá de S. Martinho ao cheiro das perdizes, com amigo homem e amigo cão, ao ver na mira uma daquelas que estão no papo, pousou a espingarda e desistiu da que não chegou a ser desinfeliz, antes pelo contrário. E, rapando dum cibo de papel do fundo dum bolso, e de algum lápis sobrado da escola, a modos de dizer, rabiscou uns dizeres bonitos que lhe mataram a fome da cabeça, que com a do estômago podia ele bem (já tinha provado da merendola…)

    Vai-se a ver, saiu empreitada limpa. O bom do caçador e poeta, pelos modos, chamou ao Douro “mar de mosto” (onde já se viu!), promoveu o santo a comandante da marinha, pôs-lhe os socalcos e os vinhedos na menina dos olhos, reparou no arrastar preguiçoso dos barcos e acabou por confessar que estava bêbado do cheiro a terra e a rosmaninho. E para nós, nem uma palavrinha? Está bom de ver! Estava de cu para nós, com vossa licença…


M.Hercília Agarez
Vila Real, 15 de Junho

quarta-feira, 12 de junho de 2019

Ao sabor do vento

Foto: josé alfredo almeida



 O vento é o mesmo:
mas sua resposta é diferente, em cada folha.

Somente a árvore seca fica imóvel,
entre borboletas e pássaros.



Cecília Meireles

terça-feira, 11 de junho de 2019

Gosto de olhar

Foto:josé alfredo almeida



Eu gosto de delicadeza.
Seja nos gestos, nas palavras, nas ações, no jeito de olhar, no dia-a-dia e até no que não é dito com palavras, mas fica no ar...



Manuel Bandeira

segunda-feira, 10 de junho de 2019

Guarda segredo




O resto já sabes, não preciso dizê-lo. Somos assim dois, eu e tu.
Guarda segredo.



Jorge Roque

domingo, 9 de junho de 2019

Moça

Pintura de Margarida Almeida


(...)

Por isso tenho tudo o que preciso
mesmo que nada nos seja dado;
e basta-me lembrar o teu sorriso
para te sentir ao meu lado.



Nuno Júdice

sábado, 8 de junho de 2019

Fotogenia




    Não, não é cenário de estúdio de fotógrafo num ontem em que as máquinas de captar sorrisos eram adereço de gente desafogada. Os profissionais compunham um ambiente simulador de realidade interior ou exterior, com vasos de verdes encavalitados em colunas de madeira ou idílicos recortes de paisagem farfalhuda.
    A jovem posa com pose, em postura senhoril e gestos dançarinos. De perfil perfeito, de cabelo em rolinho obtido com persistência de ferro aquecido e experiente em encaracolados femininos. Veste saia e blusa de corte correcto e discreto. É uma primavera urbana em fugidia visita ao campo onde a Primavera também sabe ser senhora.
    Cachos de uvas estão longe da vindima, apenas a indiciam e anunciam com tempo.
  Ela sabe disso, mesmo sem depenicar bago endurecido e a não fazer ougar pássaros ou raposas…. Limita-se a afago leve. Se voltar, lá para dias minguantes, será, como agora, por certo, turista, apreciando o pitoresco de uma azáfama protagonizada por laparotas e laparotos e por homens e mulheres de mãos calejadas, cada qual com a sua tarefa, com a sua jorna.
    Resta, pois, decidir quem é mais fotogénico: se os cachos promissores, respirando saúde, se a donzela graciosa que os acaricia com mãos de seda.

    
M. Hercília Agarez
Vila Real, 07 de Junho

sexta-feira, 7 de junho de 2019

Como paisagem

Foto:josé alfredo almeida



"Caldas cobiçáveis são elas. No género, não as há melhores nem mais bem situadas. Ficam à beira do rio Douro, do caminho de ferro do Douro e da estrada que vai do Porto ao Pinhão. Distam duas horas fáceis da capital do Norte. Com a Régua a dois passos comunicam imediatamente com o resto do País. Como clima, são únicas. Não conhecem nevoeiros. Como paisagem, miram constantemente a vírida Penajóia, decantada terra das cerejas do Abade de Miragaia. Como águas, têm incontáveis fontes de abundante causal e múltiplas temperaturas.
(...)
As Caldas do Moledo são formas sem senão. Mas, desgraçadinhas..."   

João de Araújo Correia

    Roteirinho
    Margens do Varosa




 "Dei, no último domingo, um belíssimo passeio nas margens do Varosa. Fui a Salzedas, vim pela Ucanha e almocei num restaurante novo, armado à debilidade ou à gula do viandante num ponto gastronómico estratégico."

João de Araújo Coreia in "Horas Mortas"

quinta-feira, 6 de junho de 2019

Como eu vejo

Foto:josé alfredo almeida


Não sei se vês, como eu vejo
Pacificado,
Cair a tarde
Serena
Sobre o vale,
obre o rio,
Sobre os montes
E sobre a quietação
Espraiada da cidade,
Nos teus olhos não há serenidade
Que o deixe esconder

(...)

Porque daqui a pouco toda a poesia
Vai anoitecer.



Miguel Torga

quarta-feira, 5 de junho de 2019

Rio majestoso

Foto:josé alfredo almeida


"O rio Douro
O rio Douro não teve cantores.
Teve-os o Mondego e o Tejo também.
Mas, para além das cristas do Marão, em vez do alaúde e da guitarra havia o repique dos sinos ou o seu dobrar espaçado.
Havia o tiro certeiro dos caçadores de perdiz, lá pelas bandas da Muxagata e do Cachão da Valeira.
E o clarim das guerrilhas ouvia-se através da poeira de neve que cobria os barrancos de Sabroso.
O rio Douro ficou banido da lírica portuguesa com a sua catadura feroz pouco própria para animar os gorjeios dos bernardins, que são sempre lamurientos e que à beira de água lavam os pés e os pecados.
E no entanto, trata-se de um rio majestoso como não há outro." 

Agustina Bessa-Luís

terça-feira, 4 de junho de 2019

DOURO DE AGUSTINA




1922-2019


"Tenho pena de afastar-me de tão formosos tempos e lugares onde deixo, como casa do último encontro, o jazigo de família. Mas tudo arrefece à superfície dum mundo em perpétua mudança. Tudo menos o vinho com que se brinda, neste caso um vinho de grande escolha a apresentar como jóia da terra, a par duma obra em que, mais uma vez, o Douro é protagonista. O espírito do lugar e o espírito do vinho tem aqui um momento de aprovação. Falemos ao futuro, recriando o passado. E que tudo não volte a ser o que era, mas melhor, muito melhor."


Agustina Bessa-Luís

A linha da vida, a vida da linha

Foto:josé alfredo almeida


         Uma linha o prende ao rio. Um rio o prende à vida. Uma vida de ser só, de estar só. À luz de pouca luz. À espera de pouco peixe. Em hora de quase noite. Sem esperanças de muitos dias. Com sobra de muitas horas. Chapéu velho de sóis. Corpo cansado de mínguas. Sombra no meio de sombras.
       O homem que pesca, um homem à pesca. Sem cuidar do isco. Hábito de estender a mão. Aberta para trabalho. Para escassa paga. Para afago de filhos. Velhice descanso. Ócio. “Vontade de nada”, como Pessoa? Quem sabe!

M. Hercília Agarez

segunda-feira, 3 de junho de 2019

domingo, 2 de junho de 2019

BEM-VINDOS!

WELCOME!

SOYEZ LES BIEN-VENUS!

Foto:josé alfredo almeida


    Chegaram sem se terem feito anunciar. Não tinham a quem, nestas paragens inóspitas onde se dizia que as cerejas se comiam ao borralho. Tempos idos! Ninguém, humano ou animal voador, a esperá-los. Casal unido (tomaram muitos!), sobrevoaram céus de outros ventos, de outros sóis, de outras aves. Tentaram campanários de alturas cristãs. Nenhum lhes agradou. Rumaram a norte, de patas a pedir poiso, de fêmea a pedir berço para filhos a vir.
    Aterraram numa cidade fidalga, ciente dos seus pergaminhos, mas nem por isso menos acolhedora. Em Trás-os-Montes, adivinhavam, encontrariam a proverbial franqueza trasmontana. Tiveram sorte. Saiu-lhes na rifa uma palmeira de ramos amputados, sem sombra a oferecer. Fizeram-na renascer, não das cinzas, como Fénix, mas da inutilidade. Dir-se-á, hoje em dia, que a espécie arbórea, incomum em ares sem aquecimento central, foi reciclada. Alguém teve a premonição de que lhe estava reservado novo destino: o de ser o traço de união de flora e fauna tropicais em terras ditas frias.
    Mais ainda e não despiciendo. Aqueles hóspedes, lá na altura, puseram no ar as cabeças de vila-realenses e de facebookistas…  No ar, no sentido literal, já que no figurado andam as de muita gente, em muita parte.
    Não se justificando, há uns anos a esta parte, ver os aviões (pequenos, mas honrados!) que uma centralidade lisboeta concedeu, generosamente, a uma interioridade transmontana onde também vivem deputados e executivos, sendo os arraiais de fogo de artifício apenas nocturnos, erguem-se agora os olhos para o ninho das cegonhas. Ali mesmo, em local privilegiado, qual sentinela de um Jardim da Carreira aperaltado, florido, mas quase deserto desde o tempo em que era sede de tertúlias de reformados, as “lâmpadas fundidas”, como eram referidos em meio fértil para alcunhas, mais individuais do que colectivas.
    Há quem siga, sem respeito pela privacidade conjugal, o quotidiano do cegonho e de sua legítima esposa. Primeiro, filmaram-lhes o ninho, paternalmente, maternalmente, preparado, a tempo de acolher ovos com vidinhas dentro. Postos estes, posto isto, seguem o rasto do chefe de família (que o foi depressa) em passeio interesseiro pelo Parque Corgo, enquanto a zeladora mãe aguarda, a bom recato, a refeição do dia e a pequenada, quadrigémea, também com apetite, saltarica, joga às escondidas.
    Com este atractivo, talvez não fosse má ideia explorar, turisticamente, este património outorgado a Vila Real por uma rainha chamada natureza e convencer as agências de viagens a acrescentarem, nos seus roteiros, esta visita à do palácio de Mateus…



M. Hercília Agarez
Vila Real, 16 de Maio de 2019
Foto: José Sousa

sábado, 1 de junho de 2019

A harmonia dos contrastes

Foto: jose alfredo almeida


    Há uma boa meia dúzia de décadas, pouco ou nada justificaria a captação desta imagem. Árvores, é o que mais houve e há por aí, nas aldeias. Na paisagem edificada imperava, então, o granito musgado em habitações enchapeladas de telha marselhesa. Um fora sem atavios, um dentro visitado por impiedosas flechas solares, por golpes frígidos de frios nordestinos, por aranhas tecedeiras e outra arraia-miúda de bicharada. Salvava-se a segurança de paredes erguidas à revelia de projectos arquitectónicos e licenças camarárias…
    Casinhotos como estes são, hoje em dia, avis raras, espécies em via de extinção que defensores de identidade incentivam a preservar. O progresso pode passar pelo regresso, se houver o cuidado de, aproveitando a estrutura sólida do antigamente, restaurar o passado à luz do conforto do presente, sem com isso abastardar a fisionomia a que cada paisagem tem direito.
       A árvore tem pouco que a recomende, a não ser a envergadura anosa a agigantar-se ao lado   da casa térrea, por ela fartamente sombreada. Vizinhas são, amigas, não sabemos, mas parece-nos ouvi-las conversar as suas vidas em tardes de sestas senis.
     Terá nascido primeiro o casinhoto, heróico na sua travessia de tempos, resistente (hoje é mais político dizer resiliente…), rijo, à prova de modas? Imaginemos que sim. Que terá assistido ao percurso de vida da sua compincha vegetal, desde o ser só vergôntea, passando por adolescência com pressa de ser adulta, até à condição de senhora árvore, de meter respeito, delícia de passarada andarilha, saltitando de galho em galho, contente com tal variedade de poisos.
        Também está nos contrastes, a harmonia.
   

M. Hercilia Agarez
Vila Real, 01 de Junho