Sobre as duas obras:
"A Casa do Douro, obra-prima gerada em 1932 pelos Paladinos chefiados então por Antão de Carvalho, apresenta, no seu historial de décadas, situações que bem demonstram, não apenas a magnanimidade do Douro, mas ainda a força hercúlea dos seus viticultores; não apenas no amanho das suas parcelas de vinha, mas também na forma como sempre defenderam a sua Casa que também tudo fez, ao longo dos tempos, para a sobrevivência dos durienses.
Anos e anos sem conta, como se pode constatar nos mapas que aqui se publicam, em que o normal funcionamento do mercado dos vinhos não funcionou, lançando a miséria entre os produtores e obrigando a Casa do Douro a ciclópicas acções de intervenção no mercado, quer dos vinhos de pasto, quer mesmo dos generosos.
E foram destilarias sem conta para “queimar” todos os anos os vinhos que o mercado não absorvia e produzir a aguardente necessária para a beneficiação dos generosos que haviam de vir...
E foram armazéns que a Casa do Douro ia construindo para guardar os vinhos generosos que o comércio, quantas vezes, não comprava ao produtor por via de crises que surgiam no mercado dos vinhos, ou ainda de “políticas” que o comércio decidira, por si, impor ao Douro...
E foram ainda as Adegas Cooperativas que a Casa do Douro ajudou a nascer a partir de 1950 com um contributo não reembolsável de 20% do investimento inicial; 24 foram elas e bem contribuíram para o desenvolvimento tecnológico da vinificação das uvas, para o equilíbrio dos preços ao produtor e para o surgimento de novas marcas no mercado dos vinhos engarrafados.
Casa do Douro, uma organização da Lavoura, invejada por muitos, nomeadamente por muitas outras regiões vitícolas do Mundo que cobiçavam, também elas, poderem ter coisa igual!
Em 1990 estávamos na sexta década de existência da Casa do Douro.
O passado, por si, era bastante para que ela usufruísse de todo o respeito - e admiração até – de quem nos governava. Mas, infelizmente, da inveja de muitos outros.
A Casa do Douro, única “organização corporativa” que passou incólume as consequências da revolução de Abril, continuava a desempenhar, no Douro e junto dos viticultores, as suas funções de equilíbrio da Produção.
Mesmo quando, tendo surgido tal oportunidade, tomou a decisão de integrar parte do capital da Real Companhia Velha, empresa centenária dedicada à comercialização do Vinho do Porto.
Que não tinha em vista apenas o usufruto de interesses comerciais, mas, exclusivamente, abrir canais de comercialização directa aos inúmeros viticultores que, já nessa altura, haviam decidido comercializar directamente e sob marcas próprias a sua produção.
O projecto era aliciante, questão era que os próprios produtores acreditassem nele.
Foram mais fortes aqueles que, receosos das boas perspectivas daí advenientes que se adivinhavam, tudo fizeram para que tal projecto não fosse em frente; e não foi mesmo.
Decorrente deste desaire, surgiu na “classe política” de então a oportunidade de finalmente poder pôr fim “ao reinado da Casa do Douro” que já vinha de há décadas.
À classe política que integrava o Governo de então não foi difícil encontrar argumentos a começar no endividamento da Instituição.
E ser bem o pensou, de imediato passou ao ataque, exigindo a regularização do passivo da Casa do Douro junto das instituições bancárias nas quais o Estado intervinha como avalista. Questão que até teria sido muito mais fácil de conseguir se o Estado, nessa altura, tivesse assumido, também, a dívida que ainda hoje mantém para com a Casa do Douro, conforme conclusão de estudo então feito e em que ela está perfeitamente especificada e quantificada.
Mais uma vez aqui se cumpriu o velho ditado: “...olha para o que eu fiz, mas não olhes para o que eu faço...”.
Aqui, e assim, se iniciou, como tantos desejavam, o descalabro da Casa do Douro, obra dos Paladinos que ao Douro, aos seus Viticultores e ao País prestou sempre serviços de valor incomensurável."