quinta-feira, 31 de maio de 2018

Teu nome

Foto: josé almeida almeida



Seu nome esqueci sim

Só dói quando chamo

Por mim


Alice Ruiz

Místico

Foto: josé alfredo almeida


Se eu fosse um padre, eu, nos meus sermões,
não falaria em Deus nem no Pecado
— muito menos no Anjo Rebelado
e os encantos das suas seduções,

não citaria santos e profetas: 
nada das suas celestiais promessas 
ou das suas terríveis maldições... 
Se eu fosse um padre eu citaria os poetas, 

Rezaria seus versos, os mais belos, 
desses que desde a infância me embalaram 
e quem me dera que alguns fossem meus! 

Porque a poesia purifica a alma 
...e um belo poema — ainda que de Deus se aparte — 
um belo poema sempre leva a Deus! 


Mario Quintana

Eternamente Douro-494

Foto:josé alfredo almeida

Eternamente Douro-493

Foto: josé afredo almeida

terça-feira, 29 de maio de 2018

O que perdemos



Que é amar senão inventar-se a gente 
noutros gostos e vontades? 
 Perder o sentimento de existir 
e ser com delícia a condição de outro,
 com seus erros que nos convencem 
mais do que a perfeição?

Agustina Bessa-Luís




Por causa de um livro
vieste ao meu encontro.
Era Verão, não sabias de nada
nem isso interessava. Palavras
amavam-se fora de ti,
no atropelo das emoções.
Lá chegaria a primeira vez,
o encontro apressado num lugar
público. Desfeito o erro
ao toque da pele, não sei
se havia medo, a paixão queria-me
no lugar exacto do teu coração.
Palavras enrolam-se na sombra
da vida a dor do sentimento.


Atingido o espírito, o tempo
da infância, a realidade. Em ti
a solidão que o prazer
não mata. Quero a beleza
dos versos revelada.
Alguns anos passaram sobre
a nossa história que não acabou.
A tarde envelhece e escrevo isto
sem saber porquê.



Isabel de Sá

Proa de vinhedos

Foto: josé alfredo almeida

Eternamente Douro-490

Foto:josé alfredo almeida

segunda-feira, 28 de maio de 2018

Janela com Douro dentro

Foto:josé alfredo almeida


    Ele entra, também, em casas. Não há casas sem janelas. De vários tamanhos e  feitios. Entra sem bater a portas. Sem tocar a campainhas. Tem salvo-conduto,  livre-trânsito. Atravessa caminhos sem pagar portagens.
    Primeiro espera que as casas sejam portas de saída para visitas humanas, próximas, envolventes, sensíveis. Espera que entrem nele sem nele entrarem. Que lhe ofereçam a carícia de olhares contemplativos. Olhares estáticos. Mudos. Silenciosos. Emocionados.
    "Se Maomé não vai à montanha, vai a Montanha a Maomé". É isso. Ele vai. Ele entra em interiores, ricos ou pobres. Entra e é recebido com honras. Com hospitalidade. Com regozijo. Gosta de gente. Por isso se entristece ao encontrar vazios. Espaços com espaço de sobra. Fantasmas. Inúteis. Onde cadeiras vazias desperdiçam paisagem. Onde mesas despidas não são poisos de cálices de vinho fino.  Meros elementos decorativos, alheios à passagem de um filme em ecrã gigante. Restos de passado. Sobras. Escuridão. Abandono.

    Quem terá usufruído, outrora, daquele camarote panorâmico? Não está ninguém em casa. Mas o rio insiste, e corre dentro dela. E não pára. Quem sabe? Talvez alguém  volte, um dia. Para as vindimas de um ano vintage. Talvez.



M. Hercília Agarez
Vila Real, 28 de Maio

Paisagem sublime

Foto: josé alfredo almeida

Eternamente Douro-489

Foto:josé alfreso almeida

Somos a Primavera-40

Foto: josé alfredo almeida

Corpo inteiro

Foto: josé alfredo almeida


ontem à noite
sonhei de corpo inteiro
- acordei com teu cheiro



Alonso Alvarez

domingo, 27 de maio de 2018

Há rios...

Foto: josé alfredo almeida




Há rios que cantam
que dançam
que riem
águas infinitas
calmas ou revoltas
verdes ou azuis
há rios vaidosos
grandes ou pequenos
que desafiam
os poetas
mágicos da palavra

rios desconcertantes
imprevisíveis
malabaristas
grandes ou pequenos
que cantam
e dançam
e riem
calmos ou revoltos
verdes ou azuis

há rios...
  

M. Hercília Agarez

Eternamente Douro-488

Foto: josé alfredo almeida

Eternamente Douro-487

Foto: josé alfredo almeida

Somos a Primavera-39

Foto:josé alfredo almeida

sábado, 26 de maio de 2018

Amarelo estonteante

Foto:josé alfredo almeida


    Chegaram no dia 1 de Maio, em ponto. Não podem permitir que se extinga a tradição atávica. Associam-se, festivamente, ao dia dos que trabalham e dos que têm, apenas, emprego, reivindicando, contudo, o estatuto de trabalhadores.
    Juntaram a sua cor berrante a brancos de estevas, giestas e torgas, a roxos de urzes e de rosmaninho. Todos juntos fazem as honras da Primavera.  São sorrisos de felicidade vegetal, jardins agrestes, não suspensos, como os de Babilónia, antes bem presos a montes acolhedores que lhes servem de assento, de poiso seguro, de amparo.
    Cumpriram a sua missão, as maias. O seu dia de glória, de supremacia,
é logo o primeiro do mês em que são rainhas. Deixam-se cortar, aos ramos, às braçadas, e vão enfeitando tejadilhos até chegarem aos destinos. Pousados, com convicção ou cepticismo, em portas e janelas, afastarão o mau olhado e escorraçarão as bruxas. Pudera! Com aquele  cheiro...
    Os militantes da caça às maias poderão, assim, dormir descansados. Vale mais prevenir do que remediar. Porque, como dizem nuestros hermanos, "yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay."...



M. Hercília Agarez  
Vila Real, 26 de Maio

Pontes da Régua-1168


Foto:josé alfredo almeida

Eternamente Douro-486

Foto:josé alfredo almeida

Eternamente Douro-485

Foto:josé alfredo almeida

quinta-feira, 24 de maio de 2018

Toucada de arvoredo




Desabrochou na verdura
esta flor primaveril.
Está formosa, e não segura.

O seu cabelo ondulado
com as folhas confundido
não é curto nem comprido,
mas está bem penteado.
Com olhar de mulher pura,
está formosa, e não segura.

Esbanja a sua graça
em velho banco apoiada,
sorri, de tão encantada
para gente que não passa.
Sonha, talvez, aventura.
Está formosa e não segura.


   ( inspirado em redondilha de Camões)


M. Hercília Agarez

Barco na paisagem-366

Foto: josé alfredo almeida

Eternamente Douro-483

Foto:josé alfredo almeida

Somos a Primavera-38

Foto: josé alfredo almeida

domingo, 20 de maio de 2018

Lágrimas negras

Foto: josé alfredo almeida


     Parece que fogem, estes galhos desordenados, confusos. Frágeis, indefesos, raquíticos, esticam-se como se procurassem outro destino. Cansaram-se de uma inutilidade tornada pesadelo. Ninguém quer nada com eles. Ninguém espera nada deles. Nem a tesoura da poda lhes deu a honra da sua visita. Inúteis. O vento exerce sobre eles todo o seu poder de agitador agressivo e incisivo. E parece que fogem, sem conseguirem sair do sítio, como acontece, por vezes, nos pesadelos. Esquecidos, abandonados, ignorados. Simples rabiscos negros desenhados por mãos infantis sobre um manto azul. De tão leves, não aguentam sequer o peso de  pássaros em busca de poisos para descanso, após longos e largos voos.

    Pela configuração, esta irmandade de excrescências faz lembrar número de pirotecnia. Chuva de lágrimas. Negras. De dor.
    Não valem nada. Resta-lhes a esperança de que o tronco robusto que os regurgitou escape a raivosos raios humanos, impunes e imunes. Porque eles são, e continuarão a ser, INÚTEIS.


M. Hercília Agarez
Vila Real, 20 de Maio

Nunca aqui estiveste

Foto: josé almeida



Não quero abrir os olhos 
para não ter 
que não te encontrar



Pedro Paixão

Éden na Persegueda

Foto: josé alfedo almeida

         Casa do Romezal,  fica aqui neste lugar que é a aldeia da   Presegueda ( em Vila dos Freires, concelho do Peso da Régua), e é uma das  mais bonita  casa de  turismo de habitação onde se avista ao londo de um poente infinito esta  magnifica paisagem evolutiva e viva  do Douro, que é  Património da Humanidade. 
  
           Aqui pode ficar, dormir, beber  os nossos  melhores vinhos e sonhar, mas pode apenas  olhar serenamente  a paisagem do Douro, naquela janela (ou naquela varanda) ao amanhecer ou ao pôr-do sol e sentir que este lugar é o também um paraíso...com vistas para a paisagem duriense.   

Água fresca

Foto: josé alfredo almeida