terça-feira, 30 de junho de 2015

A última vez

Foto: josé alfredo almeida

                 
                      Lamego, junho de 2015


As pessoas dão demasiada importância à primeira vez. 
E a última vez? 
Ninguém pergunta pela última vez.
A última. 
A última de todas.
A última das últimas. 
A última depois da qual não há mais nenhuma.


Pedro Mexia    

Lugar de espera

Foto: josé alfredo almeida




Não olhes com sobranceria
o tempo em que à janela procuravas
responder e nunca o conseguias, à pergunta: «o que há entre
a escuridão lá fora e a minha alma aqui?»
Lembra.


Jorge Gomes Miranda

Pontes da Régua-172

Foto:josé alfredo almeida

O nosso Marão

Foto: josé alfredo almeida


                    Vinhós, na Régua - Junho de 2015

segunda-feira, 29 de junho de 2015

Abrir a janela para o Marão

Foto: josé alfredo almeida


                      Moura Morta, 25 de Junho
                   

Museu do Douro-76

Foto: josé  alfredo almeida

Pontes da Régua-171

Foto: josé alfredo almeida

Retrato de amigos





       Uma bela e rara fotografia tendo como fundo  paisagem, o rio e as pontes da Régua.
    Este é um  retrato dos anos 40 (ou 50) de dois singulares reguenses que se distinguiram, de dois bons homens que marcaram a vida e a cidadania da nossa terra à sua maneira e de dois dos meus melhores amigos.
  Carlos Cardoso, que foi notável Comandante dos Bombeiros da Régua.
   Abeilard Vilela, um  antigo craque da bola ( primeiro guarda- redes)  do Sport Clube da Régua.
   Este é um retrato que lembra a nossa amizade e o caminho da passagem para a eternidade de pessoas de bem inesquecíveis. 



        José Alfredo Almeida

domingo, 28 de junho de 2015

Olh'ó passarinho!



  

     Fotógrafo invisível incita ao sorriso para animar o quadro. Senhoril figura feminina pousa a mão, displicentemente, no puxador do carro de aluguer com aquele distintivo A universal, antecessor da palavra táxi que roubámos ao francês, prantando-lhe um acento.
    Quem brilha mais, o veículo ou a senhora airosa que faz pose como se estivesse em frente da torre de Pisa?
     Ao longe, os geios. No cais, pelotão de pipos aguarda embarque. O Doiro de outrora, rio "de mau navegar", refresca o cenário.
   À espreita, traseiro de cão e cabeça de menino não ofuscam vedeta...


28 de Junho de 2015


M. Hercília Agarez 

Vista para a Régua

Foto: josé alfredo almeida

Abrir a janela

Foto: josé alfredo almeida


                     Casa da D. Otília, Moura Morta, 26Junho de 2015
         



Espero.
Espero sempre,
nem sei o quê.
Por algo que aconteça.
Talvez dentro de mim.


Ana de Melo

Ciclo da vinha-16

Foto: josé alfredo almeida

À espera do táxi



                             Régua, Largo da Ponte,  1945


Esta fotografia parecer que nos quer contar uma história, a vida da mulher que aqui está  retratada. 
Pode não  contar a  sua vida  inteira, mas s quando olhamos  o rosto desta mulher ele revela mais que um momento de pausa na sua eternidade.
Aquele sorriso  desta  mulher  nada revela de si  e muito muito pouco do lugar onde se deixou fotografar. Ela é uma desconhecida para nós, mesmo que  tivesse deixado disponível uma  biografia. Nada sabemos desta mulher e  que podemos dizer dela é o que a fotografia nos permite. 
Desta mulher, podemos dizer tudo ou nada, mas a vida de alguém desconhecidpo  que  ficou retrada numa fotografia e sempre um mistéruio dificil de desvendar. 
Se calhar, se fizemos buscas  na conservatória do registo civil podíamos  ficar a saber  um pouco  da sua  existência,  a começar pela leitura do assento do seu nascimento e, se algum vez,  contraiu matrimónio civil ou religioso,  e se foi progenitora e, por fim, relendo a sua certidão de óbito, saber  o dia exacto em morreu e o cemitério que escolheu para ser sepultada. 
Acredito que  com estes papéis,  apenas  conseguiriamos identificar esta mulher, mas pouco mais  saberiamos da sua personalidade,  da sua vida e o seu nome continua a permanecer  obscuro.
É muito difícil refazer a vida de quem desconhecemos, quando nem o nome desta mulher sabemos. 
Assim, para abreviar, esta fotografia   diz  apenas que  esta mulher esteve no  Largo da Ponte (hoje conhecido como Largo 25 de Abril), no ano de 1945.
Pouco mais diz a fotografia. Mas, esta esta mulher de um discreto sorriso parece que nos convida a  viajar com ela ao passado da Régua e revisitar um tempo de memórias que não conhecemos. Bem gostamos de partir em busca desse tempo, mas  não temos à espera um velho carro de aluguer para nos levar ao reeecontro daquela mulher que, certamente, teria uma bela história de amor para nos revelar.
Não podemos viagar  para o passado de quem não conhecemos. Essa mulher  ficou parada no  seu tempo, fotografada junto à um carro de aluguer.Se calhar à espera do choffer que a fosse buscar ao Largo da Ponte, na Régua, parra sair para fora daquele longínquo e esquecido ano de 1945. 
E algum seria o seu destino, mas não o podemos advinhar. 
Naquele olhar daquela mulher não  vislumbra alguma pressa de partir nem de chegar apressadamente ao futuro. 

  
José Alfredo Almeida

sábado, 27 de junho de 2015

Fazer a História da Régua

Dr. Manuel da Costa Pinto



Boa surpresa encontrar aqui este postal, que mostra o palacete dos meus bisavós Manuel da Costa Pinto e Ana do Sacramento Meireles, construído em 1896 segundo um projecto francês. O meu bisavô foi um dos primeiros advogados residentes na Régua, se não mesmo o primeiro. Tinha-se formado em Coimbra em 1876. A minha bisavó descendia de uma família de comerciantes de Ovar, de que alguns elementos se fixaram na Régua. 
Este postal ilustrado foi editado pelo meu tio-avô José Alves Barreto, que era fotógrafo amador. As famílias Costa Pinto e Barreto ligaram-se por essa época, em 1903, se não me engano, por casamento do meu avô João Alves Barreto (ainda estudante de Medicina e irmão do José Alves Barreto) com a minha avó Maria Adelaide da Costa Pinto. 
Contou-me o meu pai, Manuel da Costa Pinto Barreto (natural da Régua e cujo primeiro emprego foi o de engenheiro na Câmara da Régua, em 1936), que uma das obras que o seu avô e meu bisavô Manuel da Costa Pinto fez como administrador do concelho, talvez nos anos 1880, foi a criação daquele jardinzinho com um coreto em frente edifício da Câmara e a criação da Alameda, por detrás da mesma. Com a terra que se tirou de um lado para fazer o jardim, aterrou-se do outro lado para fazer a Alameda, contava o meu pai.
No livro de Afonso Soares, 'Apontamentos para a História da Vila do Peso da Régua', de 1907 (ano em que morreu o meu bisavô Costa Pinto e nasceu o meu pai), mencionam-se outras obras feitas na vila sob a administração do meu bisavô, creio que em matéria de saneamento básico. Esse Sr. Afonso Soares, que além de jornalista foi comandante dos bombeiros da Régua, tem uma estátua no Largo do Cruzeiro. Era bom desenhador e pintor e foi ele quem ensinou a minha avó paterna, Maria Adelaide da Costa Pinto, a pintar a óleo, por volta dos primeiros anos do século XX.
O meu bisavô por volta de 1905-1906 saiu do Partido Progressista e aderiu à Dissidência Progressista chefiada por José Maria d'Alpoim. Houve na Régua um jornal 'O Dissidente' dirigido pelo meu bisavô e onde escrevia também o Sr. Afonso Soares. Antes desse jornal, Manuel da Costa Pinto tinha dirigido o jornal 'O Douro', órgão do Partido Progressista. Não sei se alguma biblioteca da Régua ou do país terá essas colecções de jornais, que fazem falta para se fazer a história da Régua nas décadas em torno da viragem dos sécs. XIX para XX.



José Barreto
Lisboa,17 de junho de 2015

Museu do Douro-75

Foto: josé alfredo almeida

Estar em casa

Foto: josé alfredo almeida

Duas réguas

Foto: josé alfredo almeida

Pontes da Régua-170

Foto: josé alfredo almeida

sexta-feira, 26 de junho de 2015

O ninho do sol

Foto: josé alfredo almeida



Sol. O astro rei desceu do trono. Dispensou mordomias celestes. Cansou-o a solidão das alturas. Hoje, em vez de recolher ao seu palácio, desafiou o destino, qual Prometeu. Olhou fixamente para uma natureza longínqua onde convivem fraternalmente seres de outros reinos  acariciados pela sua luz. Apeteceu-lhe um abrigo simples, aconchegante, clandestino. Foi dar a este ninho. Folhagem lho preparou. Folhagem o protege. Parece uma moeda de ouro, mas ninguém chegará a essas alturas, para a roubar. São franzinos mas atentos, os guarda-costas. Inclinam-se como quem faz vénia a sua majestade. Há-de embalá-lo, o vento. Dormirá como um anjo.
Estará algum artista por perto? Ou será perdido este quadro singular e instantâneo, perdida esta visão pictórica e irrepetível?


 25 de Junho de 2015

M. Hercília Agarez

Guardar os beijos

Foto: josé alfredo almeida




He guardado en mi memoria
la desnudez de tus besos
tu dedo delineando mi boca...


Carmen Muñoz Fernandez

Pontes da Régua-169

Foto: josé alfredo almeida

O meu Moledo-86

Foto: josé alfredo almeida

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Regresso ao passado

Foto: josé alfredo almeida



                     Caldas do Moledo, 2015
                     Parque termal ( coisa para não entender, mas está actualmente fechado)

Pontes da Régua-168

Foto: josé alfredo almeida

Fazer pontes

Foto: josé alfredo almeida



Quando o natural e o edificado se harmonizam. 
Quando a geometria da pedra austera combina com o  cinzento esverdeado e movediço de águas crepusculares.
Quando o homem uniu o que Deus criou separado. 
Pontes. 
Fraternidade. 
Do longe ao perto. 
De estranhos a irmãos.


M. Hercília Agarez

Gato preto

Foto: josé alfredo almeida




Só me sinto bem sozinho, longe do bulício do centro da cidade. Tive um desgosto de amor. Eu conto. Namorava com uma gata branca, felpuda e fofa como sumaúma. Ela não era racista e toda se requebrava com as minhas lambedelas. Para não falar do resto. Excitava-a o verde fosforescente dos meus olhos e entregava-se ao amor com um prazer desinibido.
Ontem, quando me preparava psicologicamente para ir pedir-lhe a pata em casamento, veio ter comigo, remelosa de tanto chorar, e declarou-me, num miau sofrido, não querer oficializar a relação. Explicou. A Mimosa, sua vizinha e confidente, dissera-lhe que tinha vindo morar para o bairro um homem carrancudo e supersticioso que matava quanto gato preto se cruzasse com ele. Se ficasse viúva, teria de pôr luto, logo ficava, também, preta...


M. Hercília Agarez

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Cabelos soltos

Foto: josé alfredo almeida




Despenteou-as o vento diurno. 
Tanto lhes fugiu o tempo que não tiveram tempo de ajeitar os cabelos engalfinhados. 
Ficou amuado, o crepúsculo. 
Escondido, o sol, foi poupado ao desalinho.


M. Hercília Agarez 

Um rio crepuscular


Foto: josé alfredo almeida





A beleza do claro-escuro. Raios atrevidos de sol furam as nuvens para colorir,timidamente, um rio crepuscular. Um rio-lago que caminha com a serenidade de quem não tem de obedecer a horários. Um primeiro plano de lusco-fusco brilhante, um convite ao artista paciente e oportuno.Um desafio ao pintor de palavras. Uma vontade insistente de se impor, enquanto património natural, a uma correnteza de casas incaracterísticas de um tempo hoje. Um convite à meditação. Ao silêncio. À contemplação muda e solitária. Um instantâneo a arquivar na retina. Não um Doiro de Torga ou de Araújo Correia, assassino. Antes um Douro da modernidade, da segurança, da mansidão. Uma estrada líquida sobre a qual se viaja sem sobressalto. 
Deixemo-nos de saudosismos. O passado pertence ao passado.


Vila Real, 23 de Junho de 2015

M. Hercília Agarez 

Pontes da Régua-167

Foto: josé alfredo almeida

terça-feira, 23 de junho de 2015

Régua, 1937


                       
                          Régua, 1937



                     

                      O teu sorriso,                  
                  era um rio a derramar-se nas margens do teu rosto. 
                  O meu,
                  um barco de papel a navegar nas tuas águas.


                  Éramos crianças.
                  
                  E sonhávamos.


                         Ana de Melo

Meu verão

Foto: josé alfredo almeida




Mas espera-me:
Pois por mais longos que sejam os caminhos
Eu regresso




Sophia de Mello Breyner Andresen

Pontes da Régua-166

Foto: josé alfredo almeida

Pontes da Régua-165

Foto: josé alfredo almeida

O meu Moledo-85

Foto: josé alfredo almeida


                      Junho de 2015

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Visita inesperada

Foto: josé alfredo almeida

    

Qual meteorólito, aterrou no Doiro. No Doiro seu que lhe consumiu vida e fortuna, que lhe marcou a face com riscos de desgostos e de angústias. Amparou-a na queda banco sobrante de umas termas onde tanto investiu. Virou-lhes as costas, estarrecida, revoltada. Tentou recompor-se, virando-se para esse rio seu, entretanto amansado como a fera de Shakespeare. Sorriu para as vinhas, sua paixão e força de luta. Estavam verdejantes, miravam-se, quais narcisos, nas águas de lago. E desapareceu. Levou os olhos cheios de verde e de água. Não de saudade. Sorriu também para quem teve o privilégio de a ver, mas não prometeu voltar. Não era aquele o seu reino. Regressou a um céu que ganhou na terra. Pareceu-me ouvi-la dizer: "perdoai-lhes, Senhor, que não sabem o que fazem".


 Vila Real,22 de Junho de 2015

 Hercília Agarez                                                                                                                             

Não perdi o momento

Foto: josé alfredo almeida


                     Mezio, 20.45 horas, no dia de 21 de junho de 2015




Nem um momento só podes perder

A linha musical do encantamento

Que é teu sol tua luz teu alimento




Sophia de Mello Breyner Andresen

Pontes da Régua-164

Foto: josé alfredo almeida

Pontes da Régua-163

Foto:josé alfredo almeida

O meu Moledo-84

Foto: josé alfredo almeida

Cuidar das flores

Foto: josé alfredo almeida

domingo, 21 de junho de 2015

O mar no olhar






Porque vias o mar (tinhas o mar 
no olhar) fechando os olhos. E defronte 
o víamos surgir. Bastava olhar, 
que tudo era horizonte.


Octávio Mora

Aqui começa o meu verão





Foto: josé alfredo almeida





Foi claro e breve o tempo da inocência.
A praia essa continua imensa.

Licínia Quitério

Pontes da Régua-162

Foto: josé alfredo almeida

sábado, 20 de junho de 2015

Encontros no Moledo

Foto: josé alfredo almeida

                      Dois excelentes actores profissionais da companhia de teatro Filandorra (Vila Real), o Vítor e a Helena, aqui recriando as personagens de Francisco Torres e de sua  mulher, a famosa "Ferreirinha ", D. Antónia Adelaide Ferreira.

                      Hoje estiveram no Parque Termal das Caldas do Moledo, no Roteirinho das Caldas do Moledo, organizado pelo Tertúlia João de Araújo Correia, dedicado a evocar  uma das paixões do médico e escritor João de Araújo Correia - o  seu Moledo, de que muito escreveu em sua defesa  nos seus livros - e nos jornais da época -  e muito também  amou, chegando a confessar : "Quando morrer, levo-o comigo."

Encontros com a memória

Foto: josé alfredo almeida

Uma mulher chamada Ferreirinha

Foto: josé alfredo almeida

(Re)Conhecer a Régua-229




 
     Esta é uma  imagem de marca da Régua: aqui se reconhece muito o seu passado e  uma parte pequena do seu presente.
    Quem a daqui observa  a então vila, hoje uma cidade de pequena dimensão-, pode  ainda ver a Capela do Senhor do Cruzeiro e os telhados dos armazéns de vinhos e o das bonitas casas da Ameixoeira, hoje chamada Rua da Ferreirinha, alguns das quais conseguiram sobreviver ao progresso e à fúria urbanística do nosso tempo...!

Julgamentos

Foto: josé alfredo almeida



          Só a nossa concepção de tempo nos faz nomear o Juízo Final com essas palavras; na realidade é um tribunal permanente.



                                                                                    Franz   Kafka

Leis da luz

Foto: josé alfredo almeida




Deve ocorrer em breve
uma brisa que leve
um jeito de chuva
à última branca de neve.

Até lá, observe-se
a mais estrita disciplina.
A sombra máxima
pode vir da luz mínima.


Paulo Leminski

Pontes da Régua-161

Foto: josé alfredo almeida