quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Recordar a Amiga Maria Adelaide Fernandes



Com muito respeito e admiração, presto a minha homenagem à memória da Dr. Adelaide Fernandes, uma notável reguense pelo coração ( o seu berço de nascimento foi em Linhares, Carrezeda de Ansiães) que, desde muito cedo, adoptou a Régua para viver e, até ao último dia da sua vida, exercer uma cidadania activa, sobretudo, em prole da cultura. Foi uma distinta professora ( eu fui seu aluno), tendo leccionado a disciplina de História na antiga Escola Preparatória João de Lemos, no Peso da Régua. Também foi uma advogada dos mais pobres e desfavorecidos e o seu nome ficou ligado à (já extinta) Associação Cultural do Alto Douro, da qual foi sua fundadora e a principal obreira e que, como nobres objectivos, teve a promoção da cultura na Régua, a divulgação dos grandes e dos melhores escritores da região de Trás-os-Montes e Alto e pugnou, quando ainda ele era uma simples miragem, pela criação do nosso Museu do Douro.
Deixou-nos também alguma obra da sua poesia e da prosa, uma dela publicada em jornais e outra em livros, dos quais destaco Bornéu, o meu cão, editado em Abril de 2001, uma edição da autora, que mo ofereceu com uma simpática dedicatória de amizade.
Sobre este livro e a escrita da autora, o Dr. Luís Barbosa escreveu no seu prefácio o seguinte: "No termómetro da memória, as nossas recordações sobem à temperatura das vivências. A escrita da minha Amiga Maria Adelaide quase sempre mantém o equilíbrio entre a lâmina e a ternura.Desta vez foi ao sótão das bonecas e do baú das recordações presenteou-nos com uma narrativa invulgar."Bornéu" é o epicentro donde partem as fissuras de um invulgar texto coloquial e pulsátil, com um ondular concêntrico a uma cultura global. É um receptáculo de saberes multifacetados, irrompendo da criação ficcional.(...)
Consequente nas associações simbólicas, faz mergulhar fundo as raízes afectivas - fusão harmoniosa do tempo humano e do tempo mítico. O seu vocabulário, como todo o peso da objectividade, torna-se preciso pela riqueza de conceitos e sugestões oferecidos, pela ternura com que se agarra às coisas mais banais e as transporta à evidência de um universo mais complexo.
Nos serões das longas noites de Inverno quantas histórias fantásticas povoaram de maravilhoso as agruras desses tempos rurais!...
É preciso, é urgente, recuperar essa tradição oral, aconchegada ao estímulo, no colo do afecto..."

Sem comentários:

Enviar um comentário