segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Memórias de uma tragédia


Foto: Noel de Magalhães


Eram perto das 18.45 da 1.ª de Maio de 1964 de uma tarde primaveril que acabava num horizonte cercado de montes de vinhas verdejantes e as águas serenas de um rio pasmado na beleza das suas margens. De repente, um estrondoso ruído iria marcar de dor e sofrimento a sossegada vila da Régua.
Uma  camioneta de passageiros da EAVT fazia o percurso habitual e rotineiro entre Lamego e a Régua. Atravessava a ponte nova, já nos últimos tabuleiros – construção destinada a uma linha ferroviária que nunca veio a ser construída. Avistava-se, já muito pertinho, o velho casario do Corgo, o imponente cais de mercadorias, os táxis  arrumados em fila e as  camionetas a aguardarem os passageiros de fim de semana, no Largo da Estação, onde esta faria a sua última paragem.
A camioneta, ao cruzar com um pequeno Austin Mini, colide com ele  lateralmente, descontrola a marcha, guina para a esquerda, sobe um pequeno passeio, derruba o gradeamento de ferro e precipita-se numa queda de cerca de 30 metros. E cai abruptamente sobre as  lajes e os pedregulhos que ladeiam a margem do rio, próximo do local conhecido como Cais da Junqueira, desfaz-se em ferros retorcidos e vidros partidos. Ouvem-se gritos e gera-se o pânico nos passageiros e surpreendentemente um deles, o Sr. Matos Ferreira, sai ileso e a primeira coisa que faz é procurar um botão do seu casaco perdido no meio daqueles destroços.
Pouco tempo depois, chegavam os primeiros bombeiros, que ficam horrorizados com o cenário de tragédia. Mas são eles que prestam os primeiros socorros às vítimas, ajudando-as a sair do interior de uma camioneta muito danificada. Pedem mais reforços e, de seguida, chegam os médicos e os enfermeiros que trabalham na Régua e em Lamego, entre os quais o Dr. João de Araújo Correia. Já sem vida são retirados os corpos do condutor e do cobrador da camioneta e os corpos de três jovens estudantes,acabando por duas delas falecer nas urgências do Hospital D. Luís quando recebiam tratamentos aos  seus graves ferimentos.

José Alfredo Almeida

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