Foto: josé alfredo almeida
Eia, montanha!Os olhos percorrem-te, cantando, como as aves... Sinto a água que rebenta dum penhasco lavar-me os ossos. E uma árvore isolada, vibrando com a aragem, assemelha-se toda à minha alma
Uma vez por semana venho aqui e já tudo me é familiar. Acaricio o ramo dum arbusto com a ternura dum irmão mais velho. Sento-me.Agarro a terra. Aperto-a e faço-a deslizar por entre dedos -eu que detesto o pó nas secretárias. Também apanho flores.Fico atónito, pois raramente as flores me interessam, de tanto me lembrarem as transitórias formas que busco. Fico atónito.Deixo de pensar. E é como se dos ombros me saísse o peso do universo. Eia, a montanha! Saúdo-te no breve isolamento que a vida me permite. Mas saúdo-te.
António Cabral |
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