Foto: Marques Valentim
A capacidade de interrogar é certamente um dos mais
importantes atributos que o Homem possui. Olhar em volta e questionar o porquê
das coisas constitui um exercício de inquietação construtiva.
É na resposta às perguntas formuladas que o Homem tem
encontrado sempre força, engenho e arte para seguir em frente no caminho do
progresso e da inovação, para resolver as encruzilhadas da história, por mais
complexas que sejam.
A resposta adequada a uma interrogação não é um processo
rectilíneo, com princípio e fim únicos. As variáveis são muitas e só a justa
ponderação destas nos permite encontrar a resposta certa, no tempo certo.
Interrogar, reflectir e responder constitui, então, um método
eficaz para construir o futuro, individual ou colectivo. Tanto dos homens como
das instituições.
Partindo desta metodologia, interrogo: que futuro para as
associações humanitárias de bombeiros?
Respondo desde já a esta pergunta, com uma afirmação literal:
é necessário repensar estas instituições!
São muitos os sinais que apontam para a necessidade de nelas
se introduzirem profundas alterações de natureza organizativa e funcional.
Antes de mais, torna-se indispensável consolidar doutrina,
recuperando os valores fundacionais. Depois, é imprescindível assumir sem equívocos
que a profissionalização da estrutura nuclear da sua missão constitui uma
realidade que as circunstâncias tornaram inevitável. É ainda urgente entender
que o perfil sociológico do voluntariado mudou profundamente, exigindo das
associações e dos corpos de bombeiros mais abertura à iniciativa e à
participação dos voluntários, sem quebra da disciplina que a missão torna
insubstituível. Finalmente, torna-se necessário investir em lideranças mais
qualificadas e orientadas por objectivos, de curto e médio prazo,
caracterizados pela inovação, que compensem a redução de recursos financeiros
que marcará as lideranças associativas dos próximos anos.
Para atingir estes objectivos, urge recusar a lamúria
impotente e intriguista. Importa adoptar medidas corajosas que materializem
mudanças efectivas, mantendo a essência dos valores, mas dando-lhes novos e
mais eficazes meios de concretização prática.
Interrogar o futuro começa necessariamente por avaliarmos o
nosso presente de forma humilde e responsável, sem subterfúgios nem álibis, que
apenas visam prolongar os poderes instalados.
Não proponho um cisma associativo. Defendo apenas que abramos
a porta ao futuro e o deixemos entrar, nas associações humanitárias de
bombeiros do nosso país, agindo como a Associação Humanitária dos Bombeiros
Voluntários do Peso da Régua e os seus dirigentes vêm fazendo, com particular
empenho e inteligência, após 133 anos de vida.
Duarte Caldeira
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