terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Um sentido do fim



Foto: josé alfredo almeida

"Todos nós  vivemos imersos no tempo. É ele que nos molda e sustém.Mas também é ele que nos atraiçoa.

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Parece-me que pode ser esta uma das diferenças entre a juventude e a idade: quando somos jovens, inventamos futuros diferentes para nós, quando ficamos velhos, inventamos passados diferentes para os outros.

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Tive um amigo que estudou para advogado, depois ficou desencantado e nunca praticou. Disse-me que a única vantagem desses anos perdidos era a de já não temer nem a lei nem os advogados. E em termos  mais gerais acontece uma coisa parecida, não acontece? Quanto mais aprendemos, menos é o nosso temor."Aprender" não no sentido de estudo académico, mas de compreensão prática da vida.

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Quantas vezes contamos a história da nossa vida? Quantas vezes adaptamos, embelezamos, fazemos cortes matreiros? E, quanto mais a vida avança, menos são os que à nossa volta desafiam o nosso relato, para nos lembrar que a nossa vida não é a nossa vida, é só a história que contámos sobre a nossa vida. Que contámos aos outros mas- principalmente - a nós próprios.

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Alguém disse uma vez que as suas épocas preferidas na história eram aquelas em que as coisas desmoronavam, porque isso significava que alguma coisa nova nascia. Isto faz algum sentido se o aplicarmos às nossas vidas pessoais? Morrer quando nasce algo de novo - mesmo que esse algo novo seja o nosso próprio eu? Porque, tal como toda mudança política e histórica mais cedo ou mais tarde decepciona, também ser adulto decepciona. Também a vida decepciona. Às vezes penso que a finalidade da vida é reconciliar-nos com a eventual perda esgotando-nos, e provando, por muito tempo que leve, que a vida não é tão boa como se diz."

 Julian Barnes 

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