Foto: josé alfredo almeida |
Aqui foi uma vinha.
Comi das suas uvas e bebi
do vinho que essas uvas deram
e temperei saladas
com o vinagre em que esse vinho
se tornou.
Por isso – ainda que hoje as cepas tortuosas,
privadas de todo o verde,
que esbracejam como tendo naufragado
no pérfido mar ocre pálido
do voraz capim do Outono,
lembrem mais que nunca ossadas negras
que o tempo profanou e retorceu –
de algum modo
a vinha está morta e não está:
perdura viva em mim.
Isto, bem entendido, enquanto eu próprio
for algo em que algo possa perdurar.
Depois disso, perdurará naquilo
em que eu mesmo perdure.
E a partir daqui perde-se a conta.
A.M.Pires Cabral
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