domingo, 22 de dezembro de 2013

Poesia Perdida



"Uma tarde, fui encontrar meu pai no terraço, enfronhado na leitura de um livro de versos, de aspecto muito modesto.
-Hoje temos poesia...
-E da boa!
Disse-me, então, ser o livro de um poeta das Caldas do Moledo, falecido muito novo, chamado Antão Moraes  Gomes. 
Para, logo ali, me convencer da qualidade, leu-me alguns sonetos de Antão era pastor...marcados já pelo seu lápis.
(...)
Aqui lhes deixo, de Antão Moraes Gomes, o soneto que a nós, durienses, toca de mais perto:

CORAÇÕES DE ABRAÇOS

Quem é o pintor? Quem é? Quem é o pintor
Que só vem pintar, de noite, as minhas uvas?
Seja quem for(que tem?) seja quem for
Vive na iris das luzes e das chuvas!

E como pinta? E como arranja a cor
Dos alicantes? - cabecinhas ruivas...  
Das malvasias? - cachos d`água em flor...
E a dos bastardos?- lágrimas viúvas...  

E as videiras? - como elas são as mães
Num estado de graça e parabéns
Em longos, cristianíssimos serões...

São as mães com seu fruto nos regaços
E choram - e desfazem-se em abraços
Que a gente sabe dar em corações!


Camilo de Araújo Correia

Sem comentários:

Enviar um comentário