Padre Manuel Lacerda de Oliveira Borges |
Os Bombeiros da Régua tiveram uma forte ligação à religião católica logo
desde os primeiros anos da sua existência. Os bombeiros pioneiros beneficiaram
da ajuda espiritual do Padre Manuel Lacerda de Oliveira Borges. Ele foi, ao que
consta, o primeiro capelão dos nossos Bombeiros.
O Padre Manuel Lacerda foi também um pedagogo e, nos tempos da monarquia
e primeiros anos da república, na escola
particular que fundou, ensinou as primeiras letras a crianças. Enquanto viveu,
os reguenses admiraram-no e não deixaram de o chorar quando Deus o chamou na
flor da vida, com pouco mais de 35 anos. Sendo um homem de belas feições, o seu
coração perdeu-se de amores e paixões que nunca escondeu de ninguém. De uma
relação amorosa que assumiu, foi pai de uma criança que ajudou a crescer. Esse
seu filho, de nome José Lacerda, imitando as pisadas do seu pai, chegou a
vestir a farda de bombeiro.
Depois da morte do sacerdote, os Bombeiros da Régua não tiveram mais
ninguém que quisesse ser capelão, muito embora o saudoso Padre Carminé, figura
conhecida no passado séc. XIX por ser um dotado director de orquestra, tenha
andado a espalhar a fé pelo velho quartel da Chafarica. Se se terá ocupado de
rezar missas por altura do aniversário da corporação ou, quando muito, pela
morte de algum bombeiro, não se sabe, mas algum bem deve ter feito àqueles
primeiros e generosos bombeiros.
Com a morte do Padre Lacerda, mais nenhum sacerdote encontrou vocação
espiritual para pastorear as almas dos bombeiros reguenses. Mesmo que tivessem
inclinação para usar, em vez da batina preta, uma farda, um capacete e uma
machada para entrar com os bombeiros no inferno das chamas do fogo, por certo
deve ter-lhes faltado a coragem. Ao levar a fé, o padre pode salvar alguém do
pecado e até dos maus caminhos do viver em comunidade, mas nunca se pode comparar com a missão dos nossos bombeiros que está no limite
do verdadeiro altruísmo e generosidade e numa fronteira ténue
entre a vida e a morte, quando são chamados pelo toque do sino ou da
sirene para salvar bens e vidas em perigo.
Nem no
Quartel dos Bombeiros da Régua, nem no seu pequeno Museu há memórias vivas da passagem do Padre Manuel Lacerda. Como também não existe nenhuma
lembranças da boa alma que ele foi como construtor de laços de concórdia e de
fraternidade entre os concidadãos do seu tempo.Nas rotinas do dia-a-dia da
Associação,que se mantém viva e activa permanentemente desde o ano de
1880, ninguém se deu ao cuidado de arquivar uma fotografia para que
ali fossem, pelo menos,perpetuadas as
sombras de sua presença e do seu carácter humano exemplar.
Mas, o Padre
Manuel Lacerda, embora tenha sido sepultado numa campa rasa do cemitério de
Canelas, não ficou esquecido como bom pastor na poeira do tempo e na
memória do seu povo.E, muito sinceramente, até esperávamos que um dia ele fosse homenageado pelo bem
que fez à sua terra e aos seus bombeiros....
E, por isso, quando sobre ele fizemos uma pequena nota a dar conhecimento da sua existência e da sua importância na sociedade reguense, não sabíamos se lhe íamos encontrar os rastos do caminho que, muito cedo, o levaram daqui até aos confins do outro mundo. Enganámos-nos e, quase a terminar o ano de 2013, os seus descendentes ainda vivos e de boa saúde vieram ao nosso encontro. Uma sua neta, filha do José Lacerda, ao ler na internet uma nossa evocação do distinto capelão dos bombeiros, telefonou-nos, comovida pelo nosso gesto, indicando-nos os dados pessoais que dele nos faltavam. Ao mesmo tempo, acrescentava outros que nos alimentavam uma esperança de traçar o esboço de uma ligeira biografia e revelar uma pequena parte do curto percurso terreno deste sacerdote. Essa neta deu-nos a preciosa informação de que a outra irmã guardava do distinto padre uma fotografia muito antiga, que teria sido tirada ainda muito jovem. Dirigimo-nos ao marido da irmã, comerciante de roupas com uma pequena loja na Rua dos Camilos que, depois de uma simples conversa, nos trouxe a fotografia do sacerdote emoldurada num bonito quadro de madeira para fazer nos estúdios da Foto-Baía uma reprodução digital dessa imagem. Não demorou muito tempo que o retrato do capelão seguisse para o Quartel dos Bombeiros da Régua, para ficar exposto na galeria de figuras memoráveis.
E, por isso, quando sobre ele fizemos uma pequena nota a dar conhecimento da sua existência e da sua importância na sociedade reguense, não sabíamos se lhe íamos encontrar os rastos do caminho que, muito cedo, o levaram daqui até aos confins do outro mundo. Enganámos-nos e, quase a terminar o ano de 2013, os seus descendentes ainda vivos e de boa saúde vieram ao nosso encontro. Uma sua neta, filha do José Lacerda, ao ler na internet uma nossa evocação do distinto capelão dos bombeiros, telefonou-nos, comovida pelo nosso gesto, indicando-nos os dados pessoais que dele nos faltavam. Ao mesmo tempo, acrescentava outros que nos alimentavam uma esperança de traçar o esboço de uma ligeira biografia e revelar uma pequena parte do curto percurso terreno deste sacerdote. Essa neta deu-nos a preciosa informação de que a outra irmã guardava do distinto padre uma fotografia muito antiga, que teria sido tirada ainda muito jovem. Dirigimo-nos ao marido da irmã, comerciante de roupas com uma pequena loja na Rua dos Camilos que, depois de uma simples conversa, nos trouxe a fotografia do sacerdote emoldurada num bonito quadro de madeira para fazer nos estúdios da Foto-Baía uma reprodução digital dessa imagem. Não demorou muito tempo que o retrato do capelão seguisse para o Quartel dos Bombeiros da Régua, para ficar exposto na galeria de figuras memoráveis.
Muitos anos
depois, bem se pode dizer com um sorriso que o ditoso capelão estava de
regresso à companhia dos homens do seu e nosso tempo, para se juntar àqueles
que mais se sacrificaram por constituir na Régua um corpo de bombeiros voluntários,
como é o caso dos Cdtes Manuel Maria de Magalhães, Afonso Soares, Joaquim de
Sousa Pinto, dos bombeiros José Ruço e Riço,
alguns dos tantos que, lá no infinito, andarão mortificados com algum
incêndio que deixaram cá na terra por apagar.
Com o retrato do Padre Manuel Lacerda, a actual geração de bombeiros pode conhecer, finalmente, os traços e a fisionomia do seu primeiro capelão e, sobretudo, avaliar com mais atenção o seu exemplo de humanidade.Foi graças a esta inesperada e preciosa colaboração que o nosso sacerdote, lá do outro mundo, regressou ao nosso mundo, desta vez pelos caminhos do mundo virtual! Quem tinha recordado o Padre Manuel Lacerda, num tom respeitoso e de elogio póstumo, quase como se o estivesse a venerar, foi o escritor João de Araújo Correia, que, numa crónica publicada no jornal Vida por Vida, de Novembro de 1957, sob o título "Recordações de Barro - Os Bombeiros", traçou o carácter da sua alma desta maneira:
“Perdi
a ocasião de ver os bombeiros formados quando morreu o Padre Manuel Lacerda.
Passou à minha porta o acompanhamento, a caminho do Cruzeiro, mas não o vi. Se
passou de manhã, estaria eu ainda na cama ou andaria para o quintal, onde era
vivo e morto nas horas forras das primeiras letras -tinha eu sete anos.
Quem me
descreveu o enterro foi minha irmã mais velha, imediata de minha mãe na minha
iniciação em espectáculos novos. Disse-me como tinha sido, mas só o fixei, de
mo dizer muitas vezes, que o Borrajo levava a bandeira e ia a chorar.
O Padre
Manuel Lacerda. Foi, de todos, o mais benquisto dos reguenses. Morreu de
repente, enlutando num pronto a Régua toda. Lembro-me de o ver conversar com
pai. Que fisionomia! Era uma espécie de coração visto por fora para melhor se
adorar. Meu pai, que não era homem de muitas lágrimas, nunca o recordou, pela
vida fora, com os olhos absolutamente secos.
Não se pode
dizer que o Padre Manuel Lacerda, como padre, tenha sido talhado pelo figurino
que os cânones exigem. Mas, como homem, foi um santo homem, um homem alegre,
que não podia ver pessoas mal dispostas nem arrenegadas umas com as outras.
Onde soubesse que havia desavindos, fazia uma festa, promovia um banquete,
fosse lá o que fosse, para os congregar. Deixou, na Régua, essa tradição
benigna.
O
Padre Manuel Lacerda foi capelão dos bombeiros. Por isso o acompanharam, de
bandeira enlutada, no último passeio. O Borrajo, porta-estandarte, ia a chorar…
José Alfredo Almeida
Muito bem. Porém nem no cemiterio de Canelas encontro sinal da sua existência...
ResponderEliminarProcure no jazigo das tias dele, lá o encontrará...
Eliminar