quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Tirar o Retrato

O estúdio  da Foto Baía, na Rua da Ferreirinha ( já não existe)


No meu tempo de rapaz havia tão poucas máquinas fotográficas que até se sabia quem as tinha. Eu tive uma emprestada… E foi com ela que, muito cedo, comecei a interessar-me pela fotografia.
Mas, só em 1944, ano em que entrei para a Casa do Douro, me encontrei verdadeiramente com a arte fotográfica. Devo esse encontro ao meu chefe de secção senhor Arnaldo Monteiro que, já nessa altura, era considerado um amador de muito mérito. No seu modesto laboratório e com os seus valiosos ensinamentos tomei consciência da profissão que me esperava.
Perdido o meu primeiro mestre e não havendo em Portugal qualquer curso de fotografia, mandei vir de Espanha os livros que por lá se editavam sobre a matéria que tanto me seduzia.
Tive o meu primeiro atelier nas Caldas do Moledo, onde iam “tirar o retrato” as pessoas das redondezas, da Régua na sua grande maioria. Por minha conveniência e dos clientes, montei, logo que pude, um estúdio e laboratório num 2º. andar da Rua da Ferreirinha. Com melhores condições e maiores exigências da clientela foi possível ir melhorando a qualidade do meu trabalho.
Entretanto, como a arte fotográfica se fosse alargando em complexidade e fechando em segredos cada vez maiores, vi-me na necessidade de me deslocar a Lisboa e frequentar os laboratórios da Filmarte. Foi como se um novo mundo se abrisse à minha curiosidade e insatisfação. A partir daí a minha objectiva jamais se contentou com os retratos do ganha pão. E tudo me tem servido: paisagem, flores, animais, estações do ano e do homem.
Se aqui venho com o que foi mais querido ao meu espírito e ao meu coração é por me terem dito que valia a pena repartir convosco estas recordações de TRINTA ANOS DE REVELAÇÃO.
Caí na vaidade de acreditar.

António Reis Baía

Nota: Texto inédito escrito pelo fotógrafo para o catálogo de uma exposição de seus trabalhos - "30 anos de revelação" que decorreu no Salão Nobre da Casa do Douro entre 11 e 17 de Agosto de 1986. Infelizmente, foi a última. António Reis Baía nasceu no lugar de Caldas do Moledo, no dia 28 de Março de 1921 e faleceu no Peso da Régua, no dia 7 de Março de 2004, onde sempre trabalhou e retratou tudo (ou quase tudo) com muita génio e paixão: muitas figuras locais, os principais acontecimentos públicos, em especial os dos Bombeiros da Régua, a natureza, o rio e o céu, as vinhas, a Régua do seu tempo e o seu povo. 
É pena que o seu espólio fotográfico particular não tenha ficado à guarda de uma instituição pública.

1 comentário:

  1. O saudoso Baía foi sempre o meu fotografo de eleição. Fomos colegas na C. D. Ele entrou em 1944 e eu em 1955. Em idade, ele tinha mais 18 anos que eu. Comecei desde rapaz a gostar da fotografia, mas nunca tive uma máquina capaz de me satisfazer em absoluto. Todavia ficava todo satisfeito quando o próprio Baía (que era quem revelava os rolos) dizia que as fotos estavam muito boas, etc.. Dado que mas entregava nas horas de serviço (C. D.), o Chefe dele, Arnaldo Monteiro, também viu algumas e gostava pois era um grande amador fotográfico e o mesmo aconteceu muitas vezes com o meu Chefe de Secção, Camilo G. Castelo Branco Jor.. Este mal me visse chegar com fotos novas tentava logo vê - las. O Baía foi o fotógrafo do meu casamento

    ResponderEliminar