quarta-feira, 16 de abril de 2014

Sonha

Foto: josé alfredo almeida
Sonha a vinha podada.
Sonha calma, gelada,
Pâmpanos de primavera universal.
Sonha, numa recôndita modorra,

Uma aberta desforra
Em vides de tamanho natural.
Sonha como quem dorme repousado
Na certeza da seiva e da razão;

Sonha como quem sabe que o seu fado
Tem apenas as leis da ocasião.
Sonha contra as muralhas altas, ocas,

Que são nuvens de pé sobre o horizonte:
Porque o céu há-de abrir-se quando as bocas
Beberem mosto como numa fonte.


Miguel Torga

Sem comentários:

Enviar um comentário