sábado, 26 de abril de 2014

O quarteleiro Zé Pinto

Foto Baía


Quem foi, afinal, o Sr. José Melo? O nosso “Zé Pinto”, nascido a 10/01/1915, foi quarteleiro e condutor nos Bombeiros da Régua durante variadíssimos anos. Foi casado com a D. Antónia Rosa Carvalho, também conhecida por “Antoninha dos Bombeiros”, que ainda está viva, com 95 anos, vivendo no Porto, em casa da filha, D. Maria Odete. O casal teve três filhos – o Bártolo, a Maria Odete e o Joaquim, que viveram nesta cidade -, e “Zé Pinto” ainda conheceu os quatro netos, o mesmo não acontecendo com os seis bisnetos, pois são “rebentos” mais modernos.
O Sr. Zé Pinto era um apaixonado pela sua actividade, disso todos temos a certeza, muito embora já esteja esquecida a sua acção. A paixão que ele tinha por aquela casa, o Quartel dos Bombeiros, era muito grande e causou-lhe imensa tristeza a separação forçada a que se viu obrigado. 
Todavia, o “nosso” quarteleiro não iniciou a sua actividade laboral directamente nos Bombeiros. Muito antes de entrar para tal função, ainda foi guarda-fiscal e só depois é que ingressou na Associação dos Bombeiros, onde ficou quase 40 anos.
Dado que teve um ataque cardíaco (surgiu-lhe uma angina de peito),viu-se forçado a ir para a reforma perto dos 60 anos, mas com um longo percurso de trabalho, problemática que lhe veio complicar o resto dos dias da vida, até que Deus o chamou a Si, em 14/12/1987, com 72 anos, situação que vivi muito de perto. 
Perante esta nova situação de vida, a reforma, procurou arranjar alguns entretenimentos para compensar o vazio do dia. Era regular apreciador de um bom jogo de futebol, bem como de uma boa tarde passada na pesca. Ia para o rio, a fim de poder “queimar” o tempo, já que as horas eram longas e nada do que fizera poderia ser de novo desempenhado. Ao menos isso, poder passar o tempo com amigos, porque a mágoa, o afastamento da sua paixão, mantinha-se no seu âmago.
Trazia os peixes que retirava das águas do Douro, mas, como solidário, distribuía-os pelos vizinhos. Não tive esse privilégio de poder comer peixes pescados pelo Sr. Zé Pinto, já que, quando o conheci, a condição física não lhe permitia grandes deslocações ou longas ausências de casa. É assim a vida que nos vai acontecendo, permite-nos alguns feitos, mas impede-nos outros. Parece que, no Céu, o Deus Supremo nos esquece . . .
(...)
Foi uma vida de dedicação à causa, colocando o serviço sempre à frente da sua vida ou qualquer opção que pretendesse concretizar. Perante toda esta lealdade e consagração, não houve um reconhecimento dos mais notáveis da Organização, enquanto o sr. Zé Pinto foi vivo e reformado, e hoje é tarde, dado que muitos deles já “partiram”, tal como o próprio “Zé Pinto”. Essa amargura levou-a ele para o Além, muito embora não mostrasse grande azedume com tal facto, mas alguma mágoa sentia, pois, como diz o povo, “quem não se sente não é filho de boa gente”.
Quando uma Organização tem nos seus quadros um elemento que lhe consagra quatro décadas exemplares de laboração (pelo que sabemos e pelo que nos dizem os que com ele conviveram), as quais foram interrompidas por motivos de saúde, e se esquece de enobrecer os préstimos do seu funcionário, muito mal procede e não pode dizer-se que valoriza os seus.
Se fosse um qualquer “graúdo” seria louvado e até agraciado, mas como não era um dos da “elite” deles, Zé Pinto ficou esquecido e relegado para um segundo plano, depois de passar a reformado. Viveu feliz com a esposa, os familiares e os amigos, que não lhe faltaram.


Adérito Rodrigues

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