sábado, 3 de setembro de 2016

Esta varanda

Foto:josé alfredo almeida


Esta varanda, sobre a calçada e a casa dos Melos, era a entrada principal da casa. Uma escadaria de pedra, encoberta por uma glicínia lilás, dava acesso à sala do piano, para onde entravam as visitas, onde se recebia o Compasso, e onde se velavam os mortos.
Um enorme retrato de Agustina, pintado por Hébil, ocupava uma parede; nas outras, belíssimas gravuras francesas, alusivas à Música; uma mobília de palhinha com as clássicas rocking-chairs, e o piano, um Pleyel, desafinado há muito, muito tempo. Tinha duas janelas, essa sala: uma, dava para a escadaria; a outra, para a parte de trás da varanda, voltada para a Régua, e Vale Abraão. Um grande espelho, na parede do fundo, fronteira à entrada, reflectia a glicínia agitada pelo vento, quando a porta estava aberta. Esse espelho caiu, e partiu-se, no dia em que deixei aquela casa para sempre. Vamos lá a procurar uma alma e um sentir nas casas e nas coisas…
Manoel de Oliveira filmou uma cena do filme Vale Abraão nesta varanda, fixando-a para sempre, com todo o significado insondável das memórias.


Mónica Baldaque

Godim, 1/Setembro/2016

1 comentário:

  1. ...Um bonito...único..LUGAR ...
    MEMÒRIAS...estas .aqui ..tão "prontas" a ler ....
    com gosto.....
    ...a autora ...é "particularmente ESPECIAL..!!!

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