terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Que rico colinho!





Lá se foram os caracóis, marca de uma identidade no feminino, moldura bela de infantis rostos mimosos! Tesouras atrevidas  e sem coração avançaram, afiadas, pela tua cabeça de garotinha que a mamã levou ao seu coiffeur. Para o caixote do lixo seguiram os restos da tua idade de brincar.
Agora, de cabelo à garçonne, com esse gancho adulto a domesticar as farripas rebeldes, pareces (não fora a tua roupa) as meninas órfãs ou abandonadas de que asilos eram depósito. Deixa lá! Os anéis desapareceram, mas não levaram com eles a tua beleza fresca.
Pareces feliz. As bonecas e demais brinquedos, no seu estatismo frio e mudo  esperam, em casa, por ti.
Tiveste ordem de sair para o quintal, jardim das delícias de todas as crianças pelo que encerram de apelos à aventura, a saltos e correrias sem reprimenda.
Agora os teus filhos não são de bazar. Ofereces o teu colinho e os teus carinhos a dois gatos, quase do teu tamanho, que se apequenam para nele caberem, sem bulhas nem bufadelas. E se, sentindo-se em dívida, te lamberem a mão, lembra-te que a gatice não conhece outra forma de beijar...




M. Hercília Agarez
Vila Real, 30 de Janeiro

2 comentários:

  1. ..Tão .."fresco" excerto ..este ..
    ..Ser criança ..brincar ..com as ternuras mais simples e bonitas ,,!!

    GOSTEI MUITO..MUITO ...


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  2. Tão bonita a menina, mesmo sem caracóis!.

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