sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Menina estás à janela...




    Parece saída das páginas de figurino chegado de Paris com as novas tendências da moda. Nessa altura, meninas e senhoras sujeitavam-se a duas ou três provas, mais alinhavo, menos alfinete, rodando em frente ao espelho, obedecendo à batuta da modista da terra, conhecida por "mãos de fada".
    A ditadura do prêt-à-porter reformou hábeis mãos. Ficaram para objectos de museu máquinas de costura, fitas métricas, tesouras afiadas, dedais, chumaços e entretelas, giz de alfaiate, molas e colchetes e outras miudezas, sem esquecer os manequins seráficos, de nudez paciente enquanto os não agasalhava obra em prova.
    Teve gosto na escolha do modelo, a menina-senhora, debruçada no parapeito-camarote, de olhar enigmático, giocondesco.  O rigor da requintada toilette não condiz com uma velada e mal disfarçada melancolia. Que faz ela ali, assim paramentada? Espera alguém para passeio amoroso? Estende o olhar até ver esse alguém desaparecer da sua rua? E se estiver só a meditar, zangada com uma vida que não lhe consente sorrisos?
    Não desanimes, "menina que estás à janela" e ouve o meu conselho:

                                      Espera um amanhã
                                      em que o destino
                                      te seja arco-íris.



M. Hercília Agarez
Vila Real, 12 de Janeiro de 2018

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