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Foto:josé alfredo almeida |
Cepas em quase cruz. Tiritantes, mas firmes. Negras como os
esteios, amparos dos seus anos, da sua velhice. Em compasso de espera. Pela
frialdade que lhes chega às entranhas, adivinham a chegada dos trabalhadores,
das suas mãos sábias, credenciadas por longa experiência nas delicadas tarefas
da poda e da empa.
A tesoura não repousa. É sua eterna companheira, tão
indispensável como em missa sacristão. Dela cairão em chãos invernosos varas
inúteis, desordenadas. Inúteis nas videiras, úteis quando, em molhos feitas,
substituem as acendalhas em lareiras rurais.
A empa (ou erguida) leva-me a Miguel Torga e a um dos poemas
"Bucólica" em que enumera, entre nadas de que é feita a vida, um
gesto do seu velho: "Meu pai a erguer uma videira / Como quem faz a trança
à filha".
E eu, reduzida à minha insignificância perante o mestre,
digo:
Dedos
encarquilhados
erguem
videiras:
lavores
no masculino.
in
As Asas da Libelinha
M. Hercília Agarez
Vila Real, 16 de Janeiro de 2018
...simplicidade requintada ..nas palavras ....
ResponderEliminartão ...especial....!!
a foto ...condiz ....ião bem...