domingo, 2 de março de 2014

Procuro-te


Foto: josé alfredo almeida

Como um sol de polpa escura 
para levar à boca, 
eis as mãos: 
procuram-te desde o chão, 

entre os veios do sono 

e da memória procuram-te: 
à vertigem do ar 
abrem as portas: 


vai entrar o vento ou o violento 

aroma de uma candeia, 
e subitamente a ferida 
recomeça a sangrar: 


é tempo de colher: a noite 

iluminou-se bago a bago: vais surgir 
para beber de um trago 
como um grito contra o muro. 


Sou eu, desde a aurora, 

eu — a terra — que te procuro. 

Eugénio de Andrade

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