quarta-feira, 26 de março de 2014

(Re)Conhecer a Régua-39


Um apontamento  sobre a  história
do actual Quartel dos Bombeiros Voluntários da Régua


Aí por volta do ano de 1947, quando por circunstâncias várias - que não vem ao caso relatar -, me vi alcandorado ao lugar de primeiro magistrado do Concelho, tive ocasião de ajudar no seu arranque definitivo, o edifício inacabado daquela prestimosa Instituição, situado na que havia de mais tarde chamar-se Avenida Sebastião Ramires. 
Tinha-se erguido um esqueleto de aspecto arquitectónico que prometia brilhar no futuro, mas durante alguns anos assim se conservou, sem portas, sem janelas, e sem telhado. Servia unicamente de sentinas públicas mas sem saneamento. 
Eu passava por ali poucas vezes - dado que não me fazia jeito pela situação da minha Repartição, e só de longe em longe avistava aquela estrutura de pedra estranhamente abandonada em plena avenida que agora mudou de nome mercê do 25 de Abril, como aliás se fez em todo o País para eliminar os nomes de figuras que, de algum modo, representavam o antigo regime que quer queiram quer não, muito fizeram por Portugal. 
Parece-me não ser a forma mais apropriada, porque a História não se faz com tretas mas sim com factos. 
Mas adiante, e retomemos o fio à meada que queremos desfiar. 
Quando tomei posse do lugar, passei então a fazer caminho pela Avenida e a deixar o carro em frente da referida obra. 
Logo no primeiro dia e por mera curiosidade, entrei nos baixos, para ver o seu interior que contrastava tristemente com aquela magnífica frontaria tão bem trabalhada, revelando o excelente artista que a tinha concebido. Fiquei indignado e enojado com o que vi, grandes buracos abertos junto aos alicerces onde se lançavam as mais variadas porcarias e muita gente ali fazia as suas necessidades, e de tal maneira, que o cheiro lá dentro era repugnante e pestilento. 
Vendo que os Bombeiros estavam pessimamente instalados na rua dos Camilos, e ansiavam por ter a sua Sede, tratei imediatamente de contactar a sua direcção, nomeadamente Jaime Guedes, infelizmente já falecido, mas o principal «motor» da Associação, no sentido de acabar o Quartel. 
Confiei-lhe os meus pensamentos acerca do que me parecia mais rápido para acabar a obra e encontrei nele a melhor receptividade.
Falei na mesma altura e troquei impressões com o Engenheiro Manuel Barreto, então Director da Urbanização, que logo se interessou pelo assunto e assentou-se em pedir a comparticipação, ao então Ministro das Obras Públicas, Senhor Engenheiro José Frederico Ulrich, que daí a pouco viria visitar a Régua. 
Quando essa visita se efectuou, levámo-lo a ver aquele espectáculo tão deprimente, e logo o Ministro deu o seu apoio e auxílio ao nosso pedido mas com a condição de se "limpar" a frontaria que não achava bonita. Combatemos a ideia do Ministro, e passado tempo ele concordou, e a comparticipação veio, e a reconstrução do Quartel principiou. 
Mas antes, e é aí que eu quero chegar,  dado que não havia portas, nem janelas, nem telhado, a Câmara da minha presidência deu aos Bombeiros os materiais retirados da demolição duma Casa que se tinha expropriado em frente da Manutenção Militar, e cujo terreno  se destinava à construção do Edifício Escolar actualmente ali existente. 
Com esses materiais taparam-se as aberturas das janelas e portas, e cobriu-se o telhado, evitando-se assim que algumas pessoas continuassem a degradar ainda mais o futuro quartel dos Bombeiros. 
Depois, em sucessivas fases, se foi acabando e alindando o edifício que é, sem dúvida, um dos mais sugestivos e bonitos do País. 
A Câmara, que acompanhou sempre com carinho a obra, instalou-lhe a água e a luz. É claro que não se pode dissociar o quartel dos Bombeiros sem evocar os nomes das pessoas que tanto trabalharam para que ele se transformasse numa realidade. Uns já desaparecidos e que deram tudo à sua querida Associação, como Jaime Guedes, o grande impulsionador! Álvaro da Silva Rodrigues, exímio artista serralheiro e meu grande Amigo, Lourenço Medeiros, e ainda vivos, António Guedes, Claudino Clemente, e outros cujos nomes me não ocorrem agora. 
Leio sempre com agrado os artigos que o meu amigo António Guedes escreve para o "Arrais" e são quase sempre alusivos à Associação dos Bombeiros de que ele foi um dos principais elementos, e certamente vai ficar contente ao ler estas linhas, recordando factos passados vai para 30 anos. E como pertence à minha geração e pode dizer-se que trabalhamos juntos na Câmara, daqui lhe envio um abraço de velho Amigo.

Manuel Alves Soares
Antigo Presidente da Câmara Municipal do Peso da Régua

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