"A medida do amor é não ter
medida"
Santo Agostinho
Aí pela década
cinquenta do século passado, um charmoso cantor romântico, Rui de Mascarenhas,
tornou viral (como hoje se diz), uma canção que arrancava fundos e prolongados suspiros
a meninas apaixonadas. Chamava-se "A Noiva": "Branca e radiante
vai a noiva..." era o primeiro verso da letra confrangedoramente pobre e
lamechas. Mas as sonhadoras reviam-se nela, viam-se, também elas, frente ao
altar, ao lado do "noivo amado", trocando juras de fidelidade e de amor
eterno, no bem e no mal, unidos e inseparáveis como elos de uma corrente.
Até que chegava,
para a maioria, o dia D. Como esta, vestidas de um branco intemporal, símbolo
de pureza, em obediência total às imposições de uma moral pudica e punitiva.
Corpos envolvidos em sedas e tules, em brocados e rendas, até ao limite do
cânone vigente da decência. Tesouros escondidos, preservados. Véus presos em
diademas. Princesas por um dia. Sem esquecer, no peito, qual jóia, o significativo
raminho com flor de laranjeira. Nem o bouquet
artístico de flores naturais de que as rosas eram as eleitas.
Rostos serenos, mas
expectantes. Cabeças recheadas de ilusões, de esperanças, de projectos. Ânsia
da concretização de sonhos coloridos e melodiosos. Nervosismo a justificar,
quiçá, "una furtiva lagrima"*. Fé
numa longa caminhada por rotas atapetadas de ternura e confiança. Como
escreveu Antoine de Saint-Exupréry, "Amar não é olhar um para o outro, é
olhar juntos na mesma direcção".
*ária de "O Elixir do Amor" de Donizetti
M. Hercília Agarez
Vila Real, 13 de Junho
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