quarta-feira, 13 de junho de 2018

O Dia D




"A medida do amor é não ter medida" 

 Santo Agostinho


    Aí pela década cinquenta do século passado, um charmoso cantor romântico, Rui de Mascarenhas, tornou viral (como hoje se diz), uma canção que arrancava fundos e prolongados suspiros a meninas apaixonadas. Chamava-se "A Noiva": "Branca e radiante vai a noiva..." era o primeiro verso da letra confrangedoramente pobre e lamechas. Mas as sonhadoras reviam-se nela, viam-se, também elas, frente ao altar, ao lado do "noivo amado", trocando juras de fidelidade e de amor eterno, no bem e no mal, unidos e inseparáveis como elos de uma corrente.  

    Até que chegava, para a maioria, o dia D. Como esta, vestidas de um branco intemporal, símbolo de pureza, em obediência total às imposições de uma moral pudica e punitiva. Corpos envolvidos em sedas e tules, em brocados e rendas, até ao limite do cânone vigente da decência. Tesouros escondidos, preservados. Véus presos em diademas. Princesas por um dia. Sem esquecer, no peito, qual jóia, o significativo raminho com flor de laranjeira. Nem o bouquet artístico de flores naturais de que as rosas eram as eleitas.

    Rostos serenos, mas expectantes. Cabeças recheadas de ilusões, de esperanças, de projectos. Ânsia da concretização de sonhos coloridos e melodiosos. Nervosismo a justificar, quiçá, "una furtiva lagrima"*. Fé  numa longa caminhada por rotas atapetadas de ternura e confiança. Como escreveu Antoine de Saint-Exupréry, "Amar não é olhar um para o outro, é olhar juntos na mesma direcção".


*ária de "O Elixir do Amor" de Donizetti   
   


M. Hercília Agarez

Vila Real, 13 de Junho 

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