sábado, 16 de junho de 2018

Cacho adolescente

Foto:josé alfredo almeida



    Ainda ontem eras criança, de bagos pequeninos como missangas, crescendo camuflado entre parras da tua cor. Deste um grande pulo. Ganhaste corpo. Robustez. Já te impões na paisagem vinhateira com a tua galhardia adolescente. De peito feito.

      Não se pode adaptar-te à fábula "A Raposa e as Uvas", criada, na Grécia antiga por Esopo, a que se seguiram o francês La Fontaine e, entre nós, Bocage, o infeliz poeta de Setúbal tão mal tratado. Toda a gente conhece as suas anedotas, pouca a sua poesia. Na sua versão, a originalidade é o desabafo da faminta raposa - "Estão verdes, não prestam / Só cães as podem tragar"- , perante a impossibilidade de alcançar um cacho bem maduro, suspenso de uma latada.

       Também tu está verde, mas prestas. Prestas hoje, como promessa do amanhã. Um amanhã adulto e colorido.
       Que Deméter, deusa da terra cultivada, te ponha a sua divina virtude...


M. Hercília Agarez
Vila Real, 16 de Junho

2 comentários: