segunda-feira, 7 de maio de 2018

O menino nos canaviais

Eu, no Moledo: era o verão de 1965


       Há ocasiões em que a vida parece zangada comigo. Mostra-me má cara, mal abro os olhos. Pressinto que não vai correr-me bem o dia. Fico irritadiço, azedo, com a sensação de que todas as forças do mal-viver se uniram para gozar com a minha cara de poucos amigos: a cerveja morna, o café queimado, o jornal esgotado, as birras do automóvel, os enguiços do computador, o mau humor do patrão. Nem vale a pena estender mais o rol das picardias.

    Tarde, mas encontrei o antídoto. Quando vejo as coisas a dar para o torto, peço colo à infância, voando até ela "nas asas da fantasia".

    Felizmente sou do tempo em que se  mandava revelar o rolo das fotografias, depois coladas em folhas de álbum próprio, com cantinhos triangulares e decorativos, separadas por leves e estampados papéis de seda.

    Aqui está um exemplo. Aqui está a minha pequenez rechonchuda. Aqui está um "boneco chorão" (risonho não estava...) heroicamente sozinho, menino da cidade, em risco de magoar os dedos dos pés a que as sandálias deram autorização de saída, nas pedras do caminho.

    As pedras de hoje são outras, talvez magoem mais, mas comigo não levam a melhor...   




M. Hercília Agarez
Vila Real, 7 de Maio

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