sábado, 19 de maio de 2018

Mimetismo

Foto:josé alfredo almrida


  Árvores e arbustos floridos são o ex-libris da Primavera. Rododendros, azáleas, olaias, magnólias, cameleiras & companhia explodem numa exuberância multicolor espampanentemente estéril. Regalam-nos os olhos, enquanto não chega o Outono que lhes põe fim à empáfia.  Adornam jardins públicos e privados onde alegram e enfeitam espaços austeros. Oferecem o melhor que têm - as suas flores. E a mais não são obrigados...

    Com as fruteiras o caso muda de figura. Primeiro emocionam-nos com a subtileza diáfana dos seus mantos tecidos com milhões de pétalas. As cores  são as dos enxovais de meninas. Adaptando Camões no episódio de Inês de Castro, as flores das amendoeiras, das cerejeiras, das macieiras, dos pessegueiros e de outras espécies, estão "Naquele engano de alma ledo e cego / Que o vento não deixa durar muito".

    As videiras constituem, quanto a inflorescência, uma excepção. Não competem, em timing e em espectacularidade, com as restantes árvores de fruto. As suas flores estão camufladas, não querem dar nas vistas. Por mimetismo, são verdes como as folhas onde se aninham. Guardam o protagonismo para os frutos. E aguardam, como mães ansiosas, a hora do parto, rezando para que venham perfeitinhos e saudáveis. Eles, sim, merecem todas as venerações, todos os cuidados, todos os carinhos. Não diz, o sábio povo, "Quem meus filhos beija, minha boca adoça"?



M. Hercília Agarez
Vila Real, 19 de Maio

1 comentário:

  1. Perfeitinhos e saudáveis? para mais tarde serem
    triturados, esmagados ou gostosamente trincados?

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