terça-feira, 15 de maio de 2018

Da minha janela vê-se o amor




Menina estás à janela
com o teu cabelo à lua
não me vou daqui embora
        sem levara um prenda tua 

Vitorino 
    


      Da minha janela penso amor e sorrio. Não estou com o cabelo à lua, mas ao sol, à brisa, às nuvens, ao céu. Olhos postos no sonho, na fantasia. À espreita. À espera. Pacientes. Fixos num caminho por onde, um dia, chegará até mim, para me resgatar, um príncipe guerreiro, montando um cavalo-alado. Com ele irei onde quiser levar-me. Às estrelas, a oceanos longínquos, ao éden, a jardins suspensos, a lagos com cisnes, a picos nevados de montanhas perto do céu. Percorreremos chãos atapetados de pétalas de magnólia. Ouviremos Vivaldi, de acordo com a estação em que empreendermos a jornada. E outras músicas divinas, embaladoras como braços maternos. Os nossos corações apaixonados perderam a voz. Olhámo-nos nos olhos e ficou tudo dito.

    Virá. Eu sei que virá. Disse-mo a estrela polar, madrinha das minhas ilusões e das minhas esperanças. Espero-o. E vou construindo, sentada nesta abertura para o infinito, castelos imaginários. Onde o cavaleiro levará a donzela para repouso dormido em camas de dossel em damasco encarnado, com folhos debruados a pérolas e lençóis de seda virgem.
    
     Sou muito jovem. Esperarei. Eu sei que ele virá. Parece-me que já ouço, nos longes, o ruído dos cascos do cavalo, fazendo cantar as pedras da calçada.



M. Hercília Agarez 
Vila Real, 15 de Maio

1 comentário:

  1. Dar asas ao pensamento, e sonhar voando.
    Escreve tão bem! As suas palavras ás vezes são pérolas!.

    ResponderEliminar