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Foto:josé alfredo almeida |
Ele entra, também, em casas. Não há casas
sem janelas. De vários tamanhos e
feitios. Entra sem bater a portas. Sem tocar a campainhas. Tem salvo-conduto,
livre-trânsito. Atravessa caminhos sem
pagar portagens.
Primeiro espera que as casas sejam portas
de saída para visitas humanas, próximas, envolventes, sensíveis. Espera que
entrem nele sem nele entrarem. Que lhe ofereçam a carícia de olhares
contemplativos. Olhares estáticos. Mudos. Silenciosos. Emocionados.
"Se Maomé não vai à montanha, vai a Montanha a Maomé". É isso.
Ele vai. Ele entra em interiores, ricos ou pobres. Entra e é recebido com
honras. Com hospitalidade. Com regozijo. Gosta de gente. Por isso se entristece
ao encontrar vazios. Espaços com espaço de sobra. Fantasmas. Inúteis. Onde
cadeiras vazias desperdiçam paisagem. Onde mesas despidas não são poisos de
cálices de vinho fino. Meros elementos
decorativos, alheios à passagem de um filme em ecrã gigante. Restos de passado.
Sobras. Escuridão. Abandono.
Quem terá usufruído, outrora, daquele
camarote panorâmico? Não está ninguém em casa. Mas o rio insiste, e corre
dentro dela. E não pára. Quem sabe? Talvez alguém volte, um dia. Para as vindimas de um ano
vintage. Talvez.
M.
Hercília Agarez
Vila Real, 28 de Maio
E o sol? Também entra sem pedir licença.
ResponderEliminarE deixa sombras que desaparecem ao anoitecer.
Uma bela fotografia, e um texto a condizer.
É um gosto... sempre.