quarta-feira, 15 de abril de 2015

Divindade

Foto: josé alfredo almeida



Entre os teus lábios
é que a loucura acode,
desce à garganta,
invade a água.

No teu peito
é que o pólen do fogo
se junta à nascente,
alastra na sombra.

Nos teus flancos
é que a fonte começa
a ser rio de abelhas,
rumor de tigre.

Da cintura aos joelhos
é que a areia queima,
o sol é secreto,
cego o silêncio.

Deita-te comigo.
Ilumina meus vidros.
Entre lábios e lábios
toda a música é minha.

Eugénio de Andrade

1 comentário:

  1. Um poema , intenso .
    Palavras , que brilham , afagam , suavizam,- -
    Silêncios , que "falam"..
    melodias , incessantes..

    A beleza da fotografia , indescritível!

    ResponderEliminar