segunda-feira, 13 de abril de 2015

Até à última lembrança

Foto: josé alfredo almeida



Fragmentos.
Quase nada.
Um pouco da fachada cinzenta e triste,
onde outrora foi a sala.
Com o barulho de talheres e vozes.
Ao lado, o quarto grande, onde um dia se ouviu o primeiro choro de alguém a chegar ao mundo.
Havia uma árvore nas traseiras desta casa, que todas as primaveras inebriava com o seu doce aroma toda a zona circundante.
Flores, muitas flores, que cresciam livremente por todo o lado até onde a vista alcançava...
Oliveiras, onde a criançada se escondia e brincava,
algumas videiras,
uma amendoeira que toda em flor, parecia uma noiva.

Havia aqui uma casa.
Abraços e zangas, e abraços.

Quase nada.
Por vezes sons que se confundem com o vento.
Quase nada...
A não ser a alma.
A alma da casa que não vai embora, que a tudo resiste,
enquanto alguém a percorrer seja em sonho,
ou simplesmente, guardar na memória cada recanto, cada espaço respirado, vivido.

As casas por onde passámos nesta vida,

possuem a alma que lhes demos com a nossa energia, a nossa presença. Até à ultima
 lembrança.

Ana de Melo

1 comentário:

  1. Um texto com alma!..."As casas por onde passámos nesta vida" são como que, pequenos fragmentos de nós; não ficam sós, e, nem nós partimos sós.
    Bela foto que, apesar de uma ruína, evoca uma história passada; um passado com vida, com alma!

    Paula Pedro

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