terça-feira, 7 de abril de 2015

Conhecer o Marão

Foto: josé alfredo almeida




Eu é que conheço o Marão – como diria Camilo. Eu é que conheço a Samardã – lembram-se? Conheço o Marão desde que me conheço. Nasci diante do seu vulto, quero que a sua presença me acompanhe até o fim. Para o ver, saio de casa e meto-me a caminho. A poucos passos do Peso, bairro alto da vila em que trabalho, já o descortino. Sobressai, vestido de azul, das vinhas que o cercam. Esbate-se à luz diurna. Mas, à tardinha, a sua cumeada é um nítido desenho. É a figura de um morto colossal, guerreiro de alta estirpe, talvez o rei da montanha reclinado no seu último sono. Tem, sobre o ventre, o escudo da última batalha.
Desde pequeno que me habituei a venerar o Marão – quer me pareça um guerreiro, quer um cetáceo ou uma safira. Diante dele, sou contemplativo. Na luta pela vida, muitas vezes me empece o vinco desse devaneio, dolência adquirida ao sair do berço. Dói-me, poeticamente, o aro de montanhas que o Marão domina sem palavras para ser obedecido. Não posso ouvir dizer que é feio… É crível que o seu núcleo seja espectral. Mas, as terras que lhe dançam em redor, que lindas são! Será feia a Campeã? Será hediondo o alto de Quintela? Será horroroso o vergel chamado Sedielos? Sem se falar agora de Candemil e outros povoados alegres, que vão descendo, na liteira de Camilo, em busca de Amarante. São claridades cercadas de arvoredo novo.

João de Araújo Correia

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