terça-feira, 21 de outubro de 2014

Património da Humanidade

Foto: josé alfredo almeida

"No entanto e apesar disso, dois mil e um ficaria ficaria  para o futuro como um dos anos maiores da história da Região. Passado o tempo e diluída a memória de tanta destruição, anunciava-se uma farta novidade e, pela forma como Verão estava a decorrer, com uvas sãs, bem formadas e maturidade suficiente, os vinhos prometiam. Feita a vindima concluiu-se ter sido esta a terceira´colheita mais substancial e a sétima com maior autorização de benefício de sempre! Aliás, dois mil e um seria ao longo de muito tempo recordado como o último dos anos de um dos ciclos  que, iniciado em meados da década  anterior, se apresentou como dos mais interessantes em termos produtivos e financeiros para os lavradores do Alto Douro.
(...)
S+o que não foi pela abundância que o ano se afirmou como um dos mais interessantes de toda a história regional, nem mesmo pelo facto de ter sido aquele em que, desde sempre, mais vinho do Porto se vendeu - quase cento e setenta e cinco mil pipas -, mas sim pela classificação da Região junto da UNESCO como paisagem cultural de toda a humanidade.
(....)
É que o feito não era de somenos: o mundo, pela voz de um dos mais prestigiados fóruns internacionais, assumia e declarava que a paisagem vitícola do Alto Douro era pertença de toda a Humanidade e, por essa solene proclamação, fazia finalmente justiça a todos aqueles - sofredores!- que, com o sangue, suor e lágrimas do seu corpo, a teimosa sabedoria da sua alma, haviam edificado e construído um reino de monumental beleza e grandiosa singularidade. Lembrou-se então de Miguel Torga que, como ninguém, o havia definido: Patético, o estreito território de angústia, cingido à sua artéria de irrigação, atravessa o país de lado a lado. E é, no mapa da pequenez que nos coube, á única evidência com que podemos assombrar o mundo." 


Artur Vaz in " Vintage para uma vida"

2 comentários:

  1. Magnífica foto! Aliás, das minhas bonitas que já vi!...Como tal, muitos parabéns! :)
    A bem dizer, perdemos-nos na beleza estonteante dos vinhedos, nos socalcos, secularmente trabalhados pela mão humana....inequivocamente, um património inestimável.

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