sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Morrer ou viver

Foto: josé alfredo almeida


"Pela sua posição geográfica e até de assento que tem ocupado na História da Vitinicultura, terá de ser a Régua a Capital do do Douro. Foi na Régua e arredores que se originou o chamado vinho de embarque, o famoso Porto. Na corda de quintas, hoje situadas no concelho do Peso da Régua, desde a Quinta Velha à do Enxudreiro, no termo de Canelas, nasceu o Vinho do Porto. Note-se, desde já, que o nosso Enxudreiro não quer dizer lamaçal. Se o fosse, não choraria uma gota de vinho que lhe deu fama. A etimologia de Enxudreiro-Quinta deve ser especial.
Mas, vamos adiante. O cultivo da vinha generosa, prolonga-se para o Nascente, encontrou em vários pontos microclimas muito apropriados. Mas, pode dizer-se que o berço é reguense.
Foi na Régua que se construiu, como palácio real, próprio de uma corte, o edifício da Companhia Velha. Foi na Régua que funcionou a Comissão de Viticultura. É na Régua que funciona, em prédio monumental, a monumental Casa do Douro.
Diga-se também que foi do cais da Régua que partiram, durante anos e anos, para a conquista da celebridade,  bordo dos rabelos, pipas e pipas de vinho fino.
Tirar à Régua a hegemonia, como Capital do Douro, é o mesmo que tirar-lhe do brasão os cachos de uvas. É esfarrapar-lhe a bandeira.
(...)
É agora ocasião de a Régua se opor à sua morte. Mais tarde, será tarde."


João de Araújo Correia in jornal O Arrais, de 27/05/93


PS- Quem ler esta crónica pode parecer que o médico e escritor reguense, generoso sábio e  amante da sua terra - a isto chama-se cidadania activa- , adivinhou o nosso futuro....! 
Advinhou quase a  morte anunciada  da Casa do Douro  - como ele dizia a monumental Casa do Douro- será, sem margem para dúvidas, a morte da Régua e a morte dos pequenos Lavradores do Douro, que perderam a voz e, assim, perdem que os represente e defenda os seus direitos. O direito de viverem  como  gente séria honrada que, há mais de duzentos e cinquenta anos,  cultivam neste anfiteatro de montes,   a vinha e fazem o vinho generoso, o mais célebre do mundo, para ganharem o seu pão e dos seus filhos.
Os Lavradores do Douro não merecem o que lhe vão fazer.....! Quando o mercado deixa de ter regulação e leis que defenda os mais fracos, sabemos bem  a miséria que sempre os espera. E é isto que vai acontecer na Régua e no Douro...! 
Fica o último  aviso sério de um grande cidadão reguense, já  nos deixou há mais de 25 anos, mas, c sempre vigilante às tiranias e injustiças sociais, a sua voz cívica continua muito actual: "É agora ocasião de a Régua se opor à sua morte. Mais tarde, será tarde."

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