terça-feira, 29 de julho de 2014

Os livros de João de Araújo Correia-27







Pátria Pequena
(Crónicas)

Autor: João de Araújo Correia
Editora: Imprensa do Douro-Régua, 1977



"As notas que constituem este livro foram publicadas, quase todas, sem o meu nome, no Boletim Vida por Vida.
Mas, que é isso do boletim Vida por Vida? Responderei a esta pergunta, que o menos curioso dos leitores me faça, dizendo que o boletim Vida por Vida foi órgão da quase secular Associação dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua.
Publicou-se entre 1956 e 1974.Depois, deu-lhe o tranglomanglo. Morreu em flor. Não chegou a dar fruto.
Chama-se tranglomanglo ao mau olhado de bruxas e duendes, seja o que for de maligno, que não deixa ir avante, nos meios pequeninos, qualquer iniciativa útil ao comum. Nesta vila do Peso da Régua, tem assento e quartel esse mau privilégio. Sopra a qualquer lamparina acesa diante de oratório intelectual. 
Compare-se com uma luzinha inocente o boletim Vida por Vida. Veio o tranglomanglo, com boca de raio e pernas de rã, e abufou-lhe. Deu o ar - como se diz, entre comadres, quando se fala de sopro ruim, inimigo do bem e da claridade.
As notas que lancei ao Vida por Vida foram variações de temas gratos à minha índole. as menos doces foram setas de papel disparadas pelo meu arco, sempre insofrido, contra fealdades e vícios de cunho provinciano. Pouco adiantei com os disparos, porque as setas foram de papel. Mas, sosseguei o arco e a mim me sosseguei no fim de cada arremesso. Não perdi, de todo em todo, a satisfação individual.
Impôs a obrigação de publicar este livro uma senhora que aprecia tudo quanto escrevo. Parece que vive para me ler e reler. Considera dignas de análise duas linhas que saiam do meu punho. Quer, à fina força, ver-me reflectido em cada um dos meus escritos.
Faço a vontade à senhora. Publico o livro, supondo que as minhas setas, fora do meu âmbito, acertem em melhor alvo do que na minha terra.
Não é nebuloso o título do livro. A minha Pátria Pequena é a vila e concelho do Peso da Régua. Aqui nasci, aqui vivo e aqui morrerei sem espírito provinciano. Sinto-me livre de semelhante espírito, que até nas cidades é empecilho do homem.”

Peso da Régua, 26 de Fevereiro de 1977

João de Araújo Correia 

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