terça-feira, 27 de junho de 2017

Regresso à Régua




Publiquei aqui em 20 de Maio último uma carta intitulada O Peso de Regra, na qual me referia à capela da Misericórdia de Peso da Régua como uma das mais bonitas igrejas existentes em Portugal e acrescentava que não se sabia praticamente nada sobre o edifício. Graças a José Alfredo Almeida um amigo da sua terra, fiquei a conhecer outra bela obra na Régua, o Quartel dos Bombeiros Voluntários construído em duas fases entre 1929 e 1955 com o projecto do arquitecto Francisco de Oliveira Ferreira (1884- 1957), o autor também creio eu, do palacete dos Barretos, hoje Biblioteca Municipal da Régua.
A Régua conta com vários edifícios de qualidade registados pelo Serviço de Inventário do Património Arquitectónico (não o Quartel dos Bombeiros infelizmente): a Câmara, a Igreja Paroquial, a capela da Misericórdia, a capela do cemitério, o atual Centro de Saúde, a sede local da Caixa, os Correios, o Tribunal, a estação de CF, as pontes metálica e rodoviária sobre o Douro. O Museu do Douro constituído por edifícios antigos recuperados e uma adição muito moderna, também ajuda a que a Régua seja que uma terra que vale a pena visitar.
O arquitecto Francisco de Oliveira Ferreira é conhecido sobretudo por quatro edifícios, embora tenha projetado dezenas deles no Porto, em Gaia, nas regiões Norte e Centro. Esses edifícios são a Câmara de Gaia, o café A Brasileira, no Porto, o Hotel Astória, de longe o melhor edifício da margem direita do Mondego em Coimbra, e a chamada Clínica Heliântica de Francelos ou Valadares que franqueou a entrada do arquitecto nos higiénicos registos da arquitetura modernista porque não tem telhados (os modernistas benzem-se de horror cada vez que vêem um telhado num edifício recente), sendo constituído essencialmente por largo terraços sobre pilares, necessários aos tratamentos por exposição ao sol em que se acreditava muito na época.
São característicos na arquitectura da segunda metade do século XIX e dos primeiros anos do século XX o género de vãos, molduras e remates de pedra com que  Oliveira Ferreira compunha e ornamentava as suas obras, diferentes daqueles que se utilizavam em séculos anteriores mas de idêntico ao carácter: janelas duplas ou semicirculares (como as do Quartel dos Bombeiros que admitem uma luz belíssima no interior), arcos abatidos, mísulas agudas ou alongadas, pináculos.
Neste quadro, não tenho a certeza de que a capela da Misericórdia da Régua tenha sido projectada por Oliveira Ferreira. Parece-me mais suave e mais colorida (graças aos azulejos e vitrais) um pouco à maneira de outro grande arquiteto da época, Marques da Silva (1869-1947). Quem sabe? A arquitetura da Régua merece uma investigação séria.


Paulo Varela Gomes

Sem comentários:

Enviar um comentário