quinta-feira, 8 de junho de 2017

Miradouros entre rampas e socalcos

Foto: josé alfredo almeida




“Passei pela Penajóia no último domingo. Atravessei-a de ponta a ponta, percorrendo a famosa estrada de Resende. Bela estrada … É uma das mais belas estradas do País. Agora, que a Primavera vai adiantada e lhe choveu em cima, a folhagem de tanto arvoredo parece agradecer o benefício da chuva. Respira mais satisfeita. Brilha sem arrepio. A chuva, sobre flores, é triste. Sobre a árvore vestida, até os pássaros se incumbem de a enaltecer. Cantam mais puro.
Fiz a minha reverência ao miradoiro da S. Brás, hiato da natureza espantada de si própria, hiato de quem a surpreende naquele delírio de esplendores telúricos. Em torno do rio Douro, dançam montes e vales. Além, branqueja Vila Real, princesa de Trás-os-Montes.
Cá está Molães. Aqui, é s. Gião, o da Tia Aninhas e do Avô Fernandes. Lá para baixo, é o Pombal do Vergílio Correia e a Corvaceira do Abade de Miragaia. Neste rincão, despenhado como cascata verde sobre o rio barrento, nasceram homens notáveis. 
Tudo tão belo, no último domingo! Até as almas dos mortos me pareceram rejuvenescidas com o aguaceiro.”



6 de Junho de 1964
João de Araújo Correia In Passos Passos Perdidos

1 comentário:

  1. No tempo em que a chuva era abençoada...
    "Em torno do rio Douro, dançam montes e vales"
    Que bonito.

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