quarta-feira, 24 de maio de 2017

Pontes da Régua-1022

Foto:josé almeida almeida

Foi com todo o prazer que vi estas suas últimas fotografias, até porque, as das pontes, me fazem vir ao de cima imperecíveis lembranças dos meus tempos de rapazinho. E veja se não há razão para isso. Realmente, tenho em mente - não sei se com acerto ou não, porque as certezas dos tempos de menino são sempre relativas - que a ponte em revisão, a de ferro, era , por volta dos anos de 1933 e 1934, concessionada ao Banco Borges & Irmão, sendo a administração dela exercida pelo meu avô, Gaspar Monteiro, e pelo meu padrinho, José Pereira Bastos. Acontecia, então, com uma regularidade anual, que, nos dias das festas dos Remédios, em Lamego, o trânsito nesta ponte era enorme, constituindo mesmo um espectáculo cheio de interesse, com os romeiros a passarem a "pedibus calcantibus" pelo tabuleiro da ponte, onde cada um pagava um misérrimo meio-tostão, sendo-lhes passado num pequenino bocado de cartão o competente recibo do pagamento feito, que teriam de guardar, para lhes dar direito à passagem de regresso. Toda esta gente, aos milhares, se ia acumulando no largo da Ponte, onde, em descanso, ia aguardando o abrandamento do calor, que em Setembro, ainda é muito. Abrandado o calor, em grossos cordões iam todos os romeiros esvaziando o largo, rapando o meio-tostão do bolso, acarretando os cestos com comida e os muitos garrafões com a bebida da região. Alegremente, iam cantando e dançando, levando com elas muitas crianças, provocando um imenso alarido. O meu avô, nessas alturas, organizava um farto jantar numa das casas que havia à entrada da ponte, onde todos gostávamos de ver aquelas pessoas, cheias de alegria, a  caminho das importantes festas de Lamego. A confusão que reinava na zona era imensa, até porque, aos que iam a pé, se juntavam muitos carros de carreira, que vinham de várias  partes do norte, que manobravam dificilmente entre os milhares de pessoas que se acumulavam indisciplinadamente na via pública. Enfim, um acontecimento extremamente curioso, que relembro ainda com muita intensidade, e que, sendo um espectáculo ajustado àquele tempo, passado quase um século, seria, absolutamente e ainda, um apetecível espectáculo para as pessoas modernas das gerações desta era diferente.
Está a ver para onde as suas fotos me lavaram? Adivinha, certamente, o que elas para mim representam: a minha satisfação por as ter recebido é grande e compreensível, porque fazem lembrar coisas de um passado já bem distante.
E, assim, lhe deixo mais um apontamento da Régua, cuja história me parece ser de recordar às gentes de hoje.
Um abraço,

28-12-2011
Abeilard  Henriques Vilela

2 comentários:

  1. Reavivar de memórias. Bom para quem as recorda,
    e mais conhecimento para quem agora, pode saber
    de usos e costumes de tempos passados.
    É um gosto,sempre!

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