domingo, 21 de agosto de 2016

Subi àquele monte

Foto: josé alfredo almeida



Subi àquele monte, porque mal o conhecia. De todos os que me rodeiam, foi o último que devassei com a minha curiosidade. Levei comigo o meu velho binóculo e a minha máquina de tirar retratos, coisa fina e ainda nova.(...)
No último domingo, subi àquele monte, que me namora e acena, do outro lado do rio, desde a minha meninice.(....)
Subi por entre vinhas e, às tantas, escoltado por filas de eucaliptos, desgrenhada bizarria de  quem viu no eucalipto uma bica de dinheiro. Toca a andar...
Castanheiros, pequenos milherais e alguns prados, com vacas a pastar, só os vi depois de uma altitude em que não há uma cepa. Há uma vides que se estendem, como pestanas, por cima dos lameiros.(...)
Metemos a prumo por caminho estreito e ruim de vencer. Não tinha terra, que lha teriam comido as enxurradas. Tivemos de pisar aqui e além, as raízes de velhos castanheiros. Mas, que frescura não fui ali encontrar...Esqueci o mês de Julho, que costuma escandecer as fragas e vinhedos de toda a minha comarca. 
Desembocámos, de súbito, num teso árido, onde agonizavam oliveiras velhas, saudosas da terra quente. Se fossem mais novas, dir-se-ia que dançavam, como bruxas malfazejas, em redor de uma capela, que já não era capela. Eram paredes nuas e calcinadas."


João de Araújo Correia

2 comentários:

  1. ...Não ...FUGAZ..~mas INTENSO...DURADOURO...
    ETÈREO...´DOURO....!!!

    ...GOSTEI...

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  2. O deslumbramento natural do Douro, enriquecido pela escrita mágica de um grande escritor!

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