segunda-feira, 29 de agosto de 2016

N.ª Sr.ª dos Remédios, um lugar de culto



Perdem-se na memória os anos em que Lamego colecciona um património arquitectónico e cultura ímpar. Era uma cidade de destaque, o polo comercial mais importante do reino, fruto de uma posição geográfica privilegiada.
Lamego, um lugar onde se apuram todos os sentidos.

Ex-Libris.
Escala o Monte de Santo Estêvão uma imponente escadaria banhada por uma avenida de lagos habitados pelas quatro estações do ano. Erguidas ao céu em zig-zag, as escadas arrecadam, nos seus 686 degraus, a musicalidade do martelo e cinzel que os canteiros imprimiam com todo engenho e arte. Lavravam laboriosamente uma obra, do provável risco de Nicolau Nasoni ou da inspiração do seu cunho artístico, tendo em comparação a fidelidade do seu estilo.
A escadaria é travada por pátios ricamente decorados e ladeados por um frondoso pulmão verde engordado por várias espécies autóctones. Ao longo da caminhada, os peregrinos pousam o olhar de incentivo na fé, em pátios como o de “Nossa senhora de Lurdes” com capela de porta coroada por um brasão do bispo edificador, D. Manuel Vasconcelos. Em frente, a “Fonte da Sereia” acoplada pela escultura de um tritão montado num golfinho. Noutros patamares, a “Fonte de Pelicano”, a “Sagrada Família”… tudo lavrado na sumptuosidade da pedra nortenha.
Próximo da Igreja, ergue-se destemido um fantástico quadro escultórico, o “Pátio dos Réis”, habitado por dezoito estátuas nos seus pedestais correspondentes aos réis bíblicos. Estes, aproveitando os seus poderes, ordenam aos mouros que acartem toda a pedra manualmente. Ergue-se no centro, como símbolo do trabalho, a admirável “Fonte dos Gigantes” através de um obelisco que se eleva às alturas, uma verticalidade suportada nos ombros de homens que jorram água pela boca. O pátio é ladeado por pórticos do mais sublime encantamento. Todos os elementos combinam no gosto de uma arquitectura sustentado pelo uso de colunas, frisos, frontões, arcos, curvas, contra-curvas, capelas e nichos, sem esquecer os amistosos painéis de azulejos azul e branco cuja temática revela episódios religiosos sublinhando, mais uma vez, o Barroco em todo o seu esplendor.
O mesmo terreiro, no passado (séc. XIV), foi geografia da “Ermida de Santo Estêvão” que, depois de demolida, dá lugar a uma outra em honra da “Nª Sª dos Remédios” também demolida para mais tarde erguer, num espaço estratégico, uma Igreja definitiva em honra da actual Padroeira. Ao encimar a caminhada, o monumento encontra o seu ponto de fuga coroado pelo actual Santuário num terreiro amplo e divino sublinhado pela imponente, bela e requintada Cruz Monolítica. No mesmo recinto, ainda há lugar para uma harmoniosa fonte com o risco de Nicolau Nasoni, esculpida sob o granito da região e datada de 1738. A jóia de Lamego data o início da construção em 1777 dando-se por concluída já em pleno séc. XX. No entanto, o projecto soube guardar, na sua imponência, o gosto requintado e rebuscado de um estilo que afirma a existência do Barroco em Portugal.

27-08-2016

 Lurdes  Gomes

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