quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Infância d'ouro

Foto: josé alfredo almeida

A minha infância tem uvas,
cestos vindimos,
carros de bois e lagares...

Homens a pisar os cachos,
braços entrançados
numa forte corrente humana.

A minha infância tem desfolhadas
na eira,
à luz do gasómetro,
ao som do acordeão,
ao luar...

A minha infância tem afetos,
muitos abraços,
ao surgir a espiga vermelha,
do milho- rei...

Naquele tempo,
era fácil
fazer uma criança feliz!

Tudo era brinquedo
e brincadeira,
graças à criatividade e à imaginação.

Os jornais,
os farrapos,
as meias velhas,
viravam barcos de papel,
bonecas de trapos,
bolas de futebol...

As crianças corriam,
saltavam,
brincavam,
na terra,
na lama,
à chuva...

As tardes eternizavam-se,
a saltar à corda,
a jogar ao esconde- esconde,
à cabra- cega,
ao pião,
ao botão...

A minha infância é d'ouro.
Douro- agora palco das desfolhadas
e das vindimas.

Rituais de estreita comunhão
com a Natureza!

Ana Freitas

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