domingo, 2 de junho de 2019

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Foto:josé alfredo almeida


    Chegaram sem se terem feito anunciar. Não tinham a quem, nestas paragens inóspitas onde se dizia que as cerejas se comiam ao borralho. Tempos idos! Ninguém, humano ou animal voador, a esperá-los. Casal unido (tomaram muitos!), sobrevoaram céus de outros ventos, de outros sóis, de outras aves. Tentaram campanários de alturas cristãs. Nenhum lhes agradou. Rumaram a norte, de patas a pedir poiso, de fêmea a pedir berço para filhos a vir.
    Aterraram numa cidade fidalga, ciente dos seus pergaminhos, mas nem por isso menos acolhedora. Em Trás-os-Montes, adivinhavam, encontrariam a proverbial franqueza trasmontana. Tiveram sorte. Saiu-lhes na rifa uma palmeira de ramos amputados, sem sombra a oferecer. Fizeram-na renascer, não das cinzas, como Fénix, mas da inutilidade. Dir-se-á, hoje em dia, que a espécie arbórea, incomum em ares sem aquecimento central, foi reciclada. Alguém teve a premonição de que lhe estava reservado novo destino: o de ser o traço de união de flora e fauna tropicais em terras ditas frias.
    Mais ainda e não despiciendo. Aqueles hóspedes, lá na altura, puseram no ar as cabeças de vila-realenses e de facebookistas…  No ar, no sentido literal, já que no figurado andam as de muita gente, em muita parte.
    Não se justificando, há uns anos a esta parte, ver os aviões (pequenos, mas honrados!) que uma centralidade lisboeta concedeu, generosamente, a uma interioridade transmontana onde também vivem deputados e executivos, sendo os arraiais de fogo de artifício apenas nocturnos, erguem-se agora os olhos para o ninho das cegonhas. Ali mesmo, em local privilegiado, qual sentinela de um Jardim da Carreira aperaltado, florido, mas quase deserto desde o tempo em que era sede de tertúlias de reformados, as “lâmpadas fundidas”, como eram referidos em meio fértil para alcunhas, mais individuais do que colectivas.
    Há quem siga, sem respeito pela privacidade conjugal, o quotidiano do cegonho e de sua legítima esposa. Primeiro, filmaram-lhes o ninho, paternalmente, maternalmente, preparado, a tempo de acolher ovos com vidinhas dentro. Postos estes, posto isto, seguem o rasto do chefe de família (que o foi depressa) em passeio interesseiro pelo Parque Corgo, enquanto a zeladora mãe aguarda, a bom recato, a refeição do dia e a pequenada, quadrigémea, também com apetite, saltarica, joga às escondidas.
    Com este atractivo, talvez não fosse má ideia explorar, turisticamente, este património outorgado a Vila Real por uma rainha chamada natureza e convencer as agências de viagens a acrescentarem, nos seus roteiros, esta visita à do palácio de Mateus…



M. Hercília Agarez
Vila Real, 16 de Maio de 2019
Foto: José Sousa

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