sábado, 1 de junho de 2019

A harmonia dos contrastes

Foto: jose alfredo almeida


    Há uma boa meia dúzia de décadas, pouco ou nada justificaria a captação desta imagem. Árvores, é o que mais houve e há por aí, nas aldeias. Na paisagem edificada imperava, então, o granito musgado em habitações enchapeladas de telha marselhesa. Um fora sem atavios, um dentro visitado por impiedosas flechas solares, por golpes frígidos de frios nordestinos, por aranhas tecedeiras e outra arraia-miúda de bicharada. Salvava-se a segurança de paredes erguidas à revelia de projectos arquitectónicos e licenças camarárias…
    Casinhotos como estes são, hoje em dia, avis raras, espécies em via de extinção que defensores de identidade incentivam a preservar. O progresso pode passar pelo regresso, se houver o cuidado de, aproveitando a estrutura sólida do antigamente, restaurar o passado à luz do conforto do presente, sem com isso abastardar a fisionomia a que cada paisagem tem direito.
       A árvore tem pouco que a recomende, a não ser a envergadura anosa a agigantar-se ao lado   da casa térrea, por ela fartamente sombreada. Vizinhas são, amigas, não sabemos, mas parece-nos ouvi-las conversar as suas vidas em tardes de sestas senis.
     Terá nascido primeiro o casinhoto, heróico na sua travessia de tempos, resistente (hoje é mais político dizer resiliente…), rijo, à prova de modas? Imaginemos que sim. Que terá assistido ao percurso de vida da sua compincha vegetal, desde o ser só vergôntea, passando por adolescência com pressa de ser adulta, até à condição de senhora árvore, de meter respeito, delícia de passarada andarilha, saltitando de galho em galho, contente com tal variedade de poisos.
        Também está nos contrastes, a harmonia.
   

M. Hercilia Agarez
Vila Real, 01 de Junho

1 comentário:

  1. Vivências ."ternas " de outrora ..?
    Algo na memória ..."guardado ??..
    ..Carinhosamente ..!!

    GOSTEI....
    ..

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