sexta-feira, 21 de junho de 2019

A magia de um colo




    Uma aparência discretamente senhoril. Uma leveza erecta de corpo cansado. Uma fiada de rugas a servir de colar. Um vestir viúvo. Um cabelo cor de lua cheia. Um sorriso triste de avó contente. Umas mãos com marcas de caminhos andados. Um regaço-placenta de afectos. Uma pele castigada com receio de tocar macieza etérea de algodão.
    Criança refastelada em conforto quente. Carninhas roliças sorrindo saúde. Bem-estar estampado no rosto redondo. Branco sobre negro com a sua simbologia.
    Recanto florido de vasos vários, em cenário com cor e aroma, reverdece a ternura. Ar leve e livre.
    Um perto de início num perto de fim. A lei da vida. Da dependência à independência. E vice-versa. Que assim seja!

    Diz uma máxima francesa que é bom abrigar-se atrás de uma velha sebe. A protecção metaforizada em escolha vegetal sem férias de folhagem. Abrigo e sombra seguros. Também na velhice!

M. Hercília Agarez
Vila Real, 21 de Junho

1 comentário:

  1. ..Amor ..tanto "AMOR".."nesta ternura imensa ..
    ..Magia..."envolta "....persistente ...!!
    Gostei....mesmo !!




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