sábado, 17 de março de 2018

Ouro sobre azul

Foto:josé alfredo almeida


Nunca a expressão, usada em contextos variados mas sempre optimistas, traduzindo a complementaridade de uma coisa boa por uma ainda melhor, (tipo cereja em cima do bolo) foi verbalizada ou escrita com tanta propriedade.
Pela sua cor e brilho, pelo sua preciosidade visual, por aquelas farripas brincalhonas, as esguias nuvens são uma metáfora de ouro. Há riquezas impalpáveis. Os nossos olhos "compram" e armazenam na memória o que de mais belo a natureza foi capaz de criar para nós. Inspirada, arrojada, provocadora, ela excede-se, tantas vezes! Gosta de surpreender, de fugir a rotinas desprezadas, de pôr à prova a multiplicidade dos seus poderes de sedução.
Quando se lava bem lavado, é azul, o céu. E o azul, segundo o Dicionário dos Símbolos, "...é a mais profunda das cores: nele o olhar penetra sem encontrar qualquer obstáculo e perde-se no infinito, como que perante uma perpétua fuga da cor".
   
Luz e cor. Claro e escuro. Vida e morte. Tristeza e alegria. É o ciclo evolutivo da vida vegetal, vedado ao reino humano, excluído da renovação. Disso se têm queixado (e se queixam) os poetas que gostariam de viver 300 anos, como os sobreiros. Creio que nem assim dariam a sua obra por acabada. Insatisfeitos com a efemeridade da vida, apavorados os que não acreditam na Ressurreição. Se tiverem sido, se são, bons, o seu nome será lembrado ad perpetuam. Valha-lhes, ao menos, isso... Lembrem-se de um Homero (séc VIII a.c.), nunca esquecido, e esqueçam a nietzchiana Lei do Eterno Retorno...

M. Hercília Agarez
Vila Real, 17 de Março

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