segunda-feira, 12 de março de 2018

Mensageira da Primavera

Foto: josé alfredo almeida


    "Cá se fazem, cá se pagam". Chegou-me, enfim,  o tempo da desforra. Fui barbaramente maltratada durante meses. Começaram por me despir despudoradamente, indiferentes à minha resistência, ao sofrimento meu e dos meus galhos-filhos de frio transidos, de medo mudos, temendo atentados à sua fragilidade.
    Tornei-me esqueleto negro, apesar da posição vertical. Levaram-me mesmo o afago morno do sol bem intencionado, o chão esverdinhado onde arreigo as raízes, meu embrião, meu início de vida. Resisti a investidas tempestuosas de eólos enfurecidos, assisti, impotentemente, a desabares de muros centenários, à fuga de lixos para o meu rio choroso, ao sono inquieto de vinhedos descarnados.
    Mas agora aqui me têm, renovada, esplendorosa, no meu melhor. Incumbiu-me Geia de ser arauto da Primavera, dessa explosão de beleza e de promessas de que só não gosta quem vê sempre a vida a preto e branco.

M. Hercília Agarez
Vila Real, 12 de Março de 2018

1 comentário:

  1. .E o recomeço ..de tudo..
    Perfumes ..cores .."brilho....
    uma beleza ..sem fim...!!


    E o "PERFUME " DA FOTOGRAFIA ...??
    INTENSO .............

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